Hoje me vejo forçado a apostar na hipótese de que a educação escolar não vai contribuir para a promoção do pobre. Por que a pobreza continua grande, mesmo após a expansão das redes públicas de ensino e a crescente facilidade de acesso dos pobres à escolarização? Há duas explicações que me parecem razoáveis e, talvez, corretas: a rede pública de ensino está oferecendo formação pobre para o pobre. Essa é a primeira. E os pobres não estão se importando com isso. Essa é a segunda. Portanto, duas culpas: a de quem oferece educação pública péssima e a de quem aceita as coisas da forma como estão.
A culpa do pobre é imperdoável. Enquanto os filhos das classes operárias, principalmente os negros, não perceberem que a escola pode ser um meio de terem acesso a oportunidades culturais, econômicas e políticas, a vida deles não vai mudar para melhor. No mínimo, ficarão condenados à mesma condição cultural, social e econômica de seus pais ou responsáveis.
O que fazer para colocar na cabeça das camadas menos escolarizadas a convicção de que é preciso valorizar a educação escolar? Talvez as Igrejas pudessem fazer isso em suas pregações; talvez as rádios FM, que se popularizaram muito nos últimos anos; talvez, ainda, a Polícia Militar e as Associações de Moradores. Eu sonho ver, um dia, os estudantes de escolas públicas indo mais às bibliotecas, lendo livros nos ônibus ou nos locais onde ficam esperando por algum atendimento, como bancos, hospitais, ponto de ônibus. Eu não vejo essa cena. Você vê, leitor(a)?
Eu queria ver os filhos da classe operária, que precisam trabalhar, se distraindo, mas pegando frações de tempo, valorizando qualquer dez minutos, para ler um pequeno texto, exercitar uma fórmula de Matemática ou Física, ou para assistir a uma vídeo-aula em seu celular. Eu queria ver isso, mas só vejo essas pessoas jogando conversa fora, rindo ingenuamente o tempo todo com a cultura inútil de suas maquininhas.
É difícil (espero não ser impossível) mostrar para esses alunos que o estudo é investimento em si mesmos. Não que a educação garanta sucesso, mas instrumentaliza as pessoas, de alguma forma, para encararem desafios. Chego a pensar que a pobreza, por mais humilhante que seja, traz alguma compensação para muitas pessoas. Só pode ser. Caso contrário, lutariam para se livrar dos pesos que ela nos traz. Dor e sofrimento não são opções: são imposições. Se pudermos livrar delas, temos de fazer o que for necessário para isso.
Os alunos da classe média podem até ter suas razões para se relaxarem nos compromissos com a educação, porque sabem que têm pais com estrutura econômica para lhes dar certo suporte. Mas, no fundo, têm a consciência de que alcançar alto grau de escolaridade é uma chance de garantir um lugar ao sol. Valorizam a educação, ainda que contraditoriamente.
A mídia está noticiando que, hoje, somos 9,5 milhões de desempregados no Brasil. Nesse número a maior parte é de famílias operárias que têm filhos na rede pública. E muitos deles, pais e filhos, desprezam o que recebem na escola. Por sua vez, muitos gestores e docentes estão inventando notas para esses meninos serem aprovados, pois querem mascarar a imagem social de fracasso.
Na maior parte dos estados brasileiros, a escola pública está sucateada e, no desespero, tem sido gerida com forte assistencialismo e paternalismo. Você acha que o aluno pobre vai conseguir se promover socialmente nessa cultura absurda que ele e as administrações sustentam? Difícil, não? Como a realidade humana não está engessada em sistemas, continuo sonhando com a mudança dessa cultura escolar errônea e equivocada por outra que gere mais resultados positivos. Isso nos permite suspirar com um pouco menos de angústia.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
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Escrito por Educação, no dia 08/04/2016