Recentemente, a prefeitura de São Paulo concedeu 7,6% de aumento aos professores a serem divididos em duas parcelas. Em seguida, veio a notícia que mostrou dar com uma mão e tirar com a outra: "Para ampliar as matrículas na pré-escola, a gestão Fernando Haddad (PT) tem colocado mais alunos por sala do que prevê a norma da própria prefeitura de São Paulo." (Folha de São Paulo)
Os especialistas sabem que essa condição massiva de trabalho gera relações massificadas e não personalizadas de ensino e a aprendizagem fica comprometida. É a perversa lógica da produção em massa, as necessidades das crianças são ignoradas e todos ficam ofuscados um na sombra do outro, como apenas um a mais. Não precisamos de especialistas, para enxergar os prejuízos que isso traz à formação das crianças.
Os professores, na solidão silenciosa ou silenciada da sala de aula, desdobram-se o ano todo e fazem um trabalho que deveria ser feito por dois ou três profissionais. Ensinam no atacado e as crianças acompanham o que dão conta e da forma como conseguem dar conta. As secretarias municipais de Educação acham que estão fazendo o máximo, apenas reformando prédios de escola, com um discurso falacioso de que a figura mais importante e central do processo são as crianças. Porém, a realidade vai negando esses discursos, mostrando um professor exausto e uns resultados ruins produzidos pelo péssimo desempenho das crianças.
Evidentemente, não faltam secretários para dizer que a culpa é dos professores. E, de fato, muitos professores dão motivo para isso, pois são piores do que seus superiores: tiveram uma formação precária, reagem à formação permanente e não se atualizam. Alguém colocou na cabeça de muitos candidatos à docência que não é preciso se preparar bem, para trabalhar com crianças. E as autoridades concordam com eles e lhes oferecem o mínimo, com baixos investimentos em educação. Não dá pra saber quem faz pior se governantes ou governados. No fim das contas, fica claro que os dois lados sucateiam a educação.
Quanto menos preparados, mais inseguros os professores se tornam e pior é o trabalho nas escolas. A consequência é prática: professores exaustos e despreparados, sem a cultura de estudos do aluno, só pode vir resultados ruins. De secretários de educação que superlotam as salas de aula, como a gestão Haddad está fazendo, só se espera o caos. É tremendamente assustador e vergonhoso ver que a educação pública está em nível deplorável nas capitais que pulsam como coração financeiro e político do país e nas cidades do interior, como se sabe de algumas escolas da nossa região. Quem perde são as crianças.
Principalmente nas séries iniciais, ainda muito pequenas e novas, elas necessitam de um acompanhamento individualizado. As salas de aulas precisariam ter poucos alunos, com a presença de, pelo menos, dois professores por turma, em um trabalho colaborativo, que possibilitasse aos profissionais diagnosticar o perfil de cada criança e de dar a cada estudante o acompanhamento de que necessitasse. Além de não existir isso, os docentes (em geral, são professoras) ainda recebem alunos com necessidades educacionais especiais e o que se ouve é que a escola tem de se ajustar às novas demandas. Qualquer político cobraria mais repasse de verbas para ajustar seu trabalho a novas demandas sociais, enquanto professores exaustos têm de fazer o milagre de trabalhar com o mais, recebendo migalhas.
E se a concentração de renda em setores públicos, o uso ilícito das verbas a corrupção política fossem realmente combatidos no governo da esquerda dos últimos anos no país? A educação não estaria menos caótica? Os docentes não estariam menos malformados e mais bem remunerados? Não estariam menos cansados e os alunos com desempenho e resultados decentes? O que se vê são professores trabalhando exaustos em todas as redes de ensino, com salários baixos e resultados ruins de seus alunos. Como é difícil ser educador neste país!
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
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Escrito por Educação, no dia 08/04/2016