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Educação


O Google e a nossa escola



Pense se os jovens da sua família ou da família de seus amigos que, digamos, estejam fazendo o ensino médio, sejam contratados pelo Google, a partir dos critérios mencionados na entrevista dada à revista Exame pela empresa.

A diretora dos Recursos Humanos (RH) do Google, Mônica Santos, diz que o perfil de quem é contratado pela empresa se enquadra em quatro aspectos básicos. O primeiro é a inteligência ou capacidade cognitiva. “Significa compreender e resolver problemas e ser capaz de aprender coisas novas.”

Vale observar o conceito implícito de inteligência usado pela empresa. É exatamente o que o Enem vem cobrando e, para o qual, poucas escolas têm preparado seus alunos. Vale, ainda, dizer que é por causa desse novo conceito de inteligência de quem é capaz de aplicar conceitos aprendidos para a resolução de problemas que muitos alunos estão se saindo mal no exame nacional. Caberia perguntar: mas os alunos não atingirão essa inteligência? Nós não ensinamos essa inteligência e eles ainda não despertaram para ela. Boa parte dos alunos ainda quer se preparar para o Enem treinando questões, e não processando conhecimentos. São duas atitudes fron­talmente opostas, que levam a caminhos totalmente diferentes.

O segundo aspecto tem a ver com a experiência no cargo, o que para o Google é pouco relevante, uma vez que o RH da empresa leva mais em conta o potencial do candidato. Já o terceiro se refere ao perfil de liderança. Mais uma vez, a empresa inova, subvertendo o conceito clássico de liderança, usualmente ainda adotado por várias empresas. Para Mônica Santos, “Todos aqui precisam ter iniciativa e capacidade de mobilizar pessoas; até o estagiário. Mas também não adianta querer ser sempre o líder. Você precisa ser capaz de abrir mão disso, quando necessário, e trabalhar em grupo.” Essa concepção de liderança como gestão participativa ainda é embrionária na cultura organizacional da maioria das organizações, dentre elas, a escola, que prima pela ideia de forte hierarquia, chefia e subordinação de saberes e autonomia cognitiva. As poucas escolas que tomam essa direção são minoria que subverte o conceito clássico do argumento de autoridade, primando pela percepção de que a dinâmica do mundo globalizado funciona melhor com a autoridade do argumento, independente de qual setor ou departamento da empresa que ele vier.

A ruptura do Google com a concepção clássica da empresa como relação de poder hierarquizada, verticalista, fica evidenciada a expressão de Mônica Santos ao dizer: “Outra característica que não funciona no Google é ser muito apegado à hierarquia. Quando você fala em inovação e criatividade, você não pode ter amarras ou estruturas muito fixas. Num momento você é o líder do projeto. No outro, você é parte do grupo. Quem se preocupa com a hierarquia não se dá bem aqui, seja como chefe, seja como funcionário. Não dá para esperar permissão para fazer as coisas. Se você passa e vê alguma coisa errada, precisa consertar ou, se não puder, precisa pedir para alguém consertar”.

Já o quarto aspecto, mencionado por essa diretora do RH, diz respeito ao que ela denomina goodliness, [...] “ou seja, a adaptação do candidato à cultura da empresa. O que é isso? Basicamente, significa ser colaborativo e pensar diferente dos demais. Ter googliness também é ser uma pessoa interessante, com quem é gostoso trabalhar.”

Agora volte a pensar em nossa escola que mantém os alunos assistindo a aulas de camarote, conceitos e não processando conceitos, como motoristas que só sabem um caminho único e por aí vai. Você acha que eles serão contratados pelo RH do Google? Então, que conclusões você tira sobre o Google e a nossa escola?



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Escrito por Educação, no dia 01/07/2015




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