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Opinião


Psiquiatria e espiritualidade: loucura ou experiência espiritual?




Atualmente em torno de 84% da população mundial declara ter tem alguma afiliação religiosa e estudos na área de saúde mental e religiosidade apresentam correlações geralmente positivas entre essas duas áreas, com menores índices de mortalidade, menor uso de drogas, menores índices de depressão e suicídio e melhores taxas de bem estar e qualidade de vida.

Por muito tempo, o tema da religião foi negligenciado da prática clínica e considerado um tabu, na relação entre o médico e o paciente. Atualmente, os estudos incentivam tal abordagem, de maneira ética e centrada no paciente. Grande parte dos pacientes gostaria de ter essa sua dimensão abordada no encontro clínico e um número crescente de profissionais reconhece a importância de tal perspectiva para uma visão de saúde mais integral de cada paciente. Dessa forma, caminha-se, atualmente de um paradigma bio-psico-social para uma abordagem mais ampla, ou seja, bio-psico-socio e espiritual do paciente.

Diferentes dimensões podem ser consideradas ao se abordar a religiosidade de cada paciente. Além da sua filiação religiosa, deve-se considerar a sua frequência religiosa, os seus comportamentos e práticas em comunidade e também no âmbito individual e como isso pode favorecer,  ou não, a sua saúde de maneira integral.

Além disso, as experiências espirituais - muitas vezes tidas como “loucura” - podem ser vividas num contexto cultural apropriado, nem sempre significando psicopatologia, segundo diferentes estudos nessa área.  Tal abordagem merece atenção criteriosa do profissional de saúde mental para não se cair, por um lado, numa postura negligente com a possibilidade do diagnóstico real de um transtorno mental ou por outro, de se considerar preconceituosamente todas as experiências anômalas como sendo “doença mental”, menosprezando o contexto cultural de cada paciente.

 Nesse sentido, vale lembrar que pode haver, ainda, a coexistência de transtornos mentais com os relatos de experiências espirituais pelos pacientes. Isso pede manejo adequado em cada caso, visando o bem estar do paciente e do contexto de sua doença, quer seja ela ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia ou uso de álcool e outras drogas, por exemplo.

 Por outro lado, a religiosidade pode também ser fonte de sofrimento mental. Isso acontece quando, por exemplo, a pessoa se sente excluída de seu contexto religioso por algum comportamento que tenha assumido que seja contrário aos valores defendidos por aquela comunidade específica ou mesmo quando ela só consegue enxergar seus problemas de forma negativa e com uma postura excessivamente passiva e vitimizada, delegando a Deus, exclusivamente, a resolução de todos os seus problemas, por exemplo. Nesse sentido, pode passar a alimentar recorrentemente, e de forma muito destrutiva, sentimentos de culpa, baixa-estima e isolamento social. Nesse cenário, uma abordagem com profissional da área de saúde mental, num processo de psicoterapia, por exemplo, pode ajudar tal indivíduo a encontrar outras perspectivas para enfrentar os seus problemas, ajudando a encontrar soluções mais funcionais e que promovam o seu bem estar e a sua qualidade de vida, além do uso adequado da medicação, quando indicado.

 Assim, observa-se, na prática clínica, que a religiosidade e a espiritualidade são dimensões que tocam o universo do sagrado de cada pessoa e que devem ser consideradas nos cuidados em saúde mental. Tais aspectos, portanto, não devem ser negligenciados, na medida em que são fonte, no dia-a-dia de cada uma delas, de motivação, sentido para a existência, bem estar, propósito e qualidade de vida.  

 

Deve-se, pois, incentivar uma abordagem cada vez mais centrada no paciente, de maneira ética e proporcionadora de bem-estar e qualidade de vida, numa perspectiva bio-psico-social apenas, mas também espiritual.

 

Dr. Fabrício Oliveira é médico psiquiatra e homeopata, com mestrado em Saúde pelo NUPES, da Universidade Federal de Juiz de Fora com co-orientação pela Harvard Medical School. Maiores informações: www.drfabriciooliveira.com e pelo telefone: (31) 3721-6750.  




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Postado por Redação, no dia 13/10/2019 - 11:54


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