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Opinião


Setembro Amarelo: Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio Quanto vale uma vida?




O que é dar valor a algo? Quando no livro do Pequeno Príncipe se lê "foi o tempo que passaste com sua rosa é que a fez tão importante" começamos a aprender o que é Valor. 


Valor não tem a ver necessariamente com dinheiro. Isso se chama preço. Valor é o que você paga, independente de ser em moeda, dedicação, tempo, abnegação ou sacrifício àquilo a que você prioriza e encara como fonte de sentido e significado para a sua vida. E isso, muitas vezes, supera o preço. Se algo pra você tem valor, você fica mais disposto a pagar o preço, seja ele qual for.


Sobre o conceito de Vida, pouco se sabe e muito se especula, tanto na Ciência, quanto na Filosofia ou mesmo na Religião. Porém, por mais abstrato ainda seja o conceito, fica muito claro, no senso comum, quando algo não está mais vivo, ou mesmo começando a perder a vitalidade, quer seja a vitalidade de um corpo fisico, de uma empresa, de uma amizade ou de um relacionamento.


Neste sentido, neste Setembro Amarelo de 2019, prevenir o suicídio, que é o colapso final da vida, que angustia e sofre com o esvaecimento da vitalidade amplamente nos campos bio-psico-socio-espiritual é tambem valorizar a Vida, em toda a sua extensão.


A cada 40 segundos morre alguém por essa causa, no mundo. Tais atos são mais prevalentes entre pessoas do sexo masculino, entre os mais jovens e os mais idosos. Em pessoas com um transtorno mental e que fazem uso de drogas, isso tem mais chance de acontecer. O fato de estar solteiro, ou divorciado, sem filhos e sem emprego também se torna um fator de risco. Além disso, um diagnóstico de doença grave pode também aumentar os riscos, de acordo com o sistema de crenças e valores da pessoa que recebe aquele determinado diagnóstico. 


Já entre os fatores de proteção (os que diminuem as chances da ocorrência) são exatamente os inversos dos citados acima, incluindo o cultivo da religiosidade e da espiritualidade. E se alguém fala que pensa em suicídio, eis aí um importante sinal de alerta, sinal amarelo! E isso não é simplesmente "frescura" ou "falta de Deus". Além disso, se alguém já está planejando fazer algo, como já ter comprado um veneno de rato ou já ter escrito uma carta de despedida para os familiares, isso é sinal vermelho! Importa lembrar que tais sinais, amarelo e vermelho, ja sâo indicativos importantes para se procurar ajuda médica e especializada em saude mental.


Na prática, temos, todos nós, desafios em diferentes campos, quer seja no Intrapessoal (Relação consigo mesmo, ex. auto-estima), quer no Interpessoal (Relacionamentos com os outros, ex.: trabalho e família), quer no Transpessoal (Espiritualidade, ex.: relação com Deus , com o sagrado ou transcendente). No caso do risco de suicidio, muitas vezes, mais de uma dessas áreas da Vida pode estar adoecida e gravemente afetada.


Ja atendi inúmeros pacientes adoecidos no Intrapessoal e no Interpessoal, mas que se seguravam na vida devido à muita força de sua fé. Outros que se sentiam amparados no Interpessoal, pelo apoio da familia ou pelo forte vínculo com o trabalho, para superarem seus desafios. Outros, mesmo sem se sentirem apoiados pela comunidade religiosa, família ou por Deus, guardavam para si um forte senso de valor pessoal. E esse auto-amor, ou seja, sua boa relação Intrapessoal,  os fizeram seguir, sabendo que superariam aquele ciclo obscuro e que deveriam ter esperança, acreditando-se merecedores de dias melhores.


Nesse sentido muito importante diferenciar Inferno de Inverno. Inferno, quer seja ele mental, emocional, social ou espiritual, em geral, embora nem sempre, são frutos de escolhas mal feitas. E, nesse sentido, é preciso coragem para assumir isso. Culpar os outros pelo Inferno que vivemos, ainda que eles tenham sido parcialmente responsaveis por entrarmos naquela situação - mas não por continuarmos nela -  só enfraquece a nossa autonomia e responsabilidade em tomar decisões para que aquela realidade mude e procuremos por situações de melhoria. Caminhar, seguir, perdoar, "deixar ir" são escolhas cabíveis apenas àqueles que não querem mais ser vítimas passivas das circunstâncias, por mais desafiadoras sejam tais decisões. 


Saber desistir de algo que se tornou tóxico também é um desafio, pois tendemos a confundir perseverança (expressão de humildade) com teimosia (expressão do orgulho). E tudo isso dói. Dói porque isso tira a pessoa da zona de conforto, a projeta para além do "Livro das Desculpas" e lhe faz procurar respostas no "Livro das Soluções". E existem soluções mais funcionais, que valorizam a Vida, do que a solução drástica e dramática daquele que opta, muitas vezes desesperado, por pular do barco que nos conduz a todos pela Jornada da Vida.  


Vida essa, que tem seus ciclos, e que não são criados por nós, e o Inverno é um deles. O Inverno também traz a sua sabedoria, e nenhum de nós, enquanto vivendo sobre as terras desse mundo, estará isento de passar por este ciclo enobrecedor do Espírito, assim como são também os outros. Mas os suicídios, segundo alguns estudos, tendem a acontecer mais no Inverno, quer seja enquanto estação climática, quer como estaçao da Vida. Se nos preparamos mais para os momentos difíceis, falando mais de nossas vulnerabilidades, compartilhando nossos sofrimentos de forma adequada,  isso pode ser muito salutar. Não se trata apenas de Invernos financeiros, mas tambem emocionais, sociais e espirituais. Podemos, juntos, atravessar melhor esses momentos de geada que nos levam, não raro, ao extremo de nossas forças. Nesse sentido, acreditar que não atravessaremos Invernos na vida pode ser expressão de imaturidade e de irresponsabilidade com a Vida e com os outros por quem somos responsáveis e que nos querem ver felizes e satisfeitos com a nossa propria Vida.


Para isso, com relação ao suicídio, é  preciso aprender e também ensinar às novas gerações uma habilidade cada vez mais fundamental nos dias atuais: SABER PEDIR AJUDA. Não importa se vai ser ligando no 188, se vai ser falando com um amigo, vizinho, líder religioso ou familiar. Ou mesmo superando os preconceitos e procurando um profissional de saúde mental, médico psiquiatra ou psicólogo e pedindo ajuda,  por exemplo, para um quadro depressivo que se está vivendo e que pode vir acompanhado da ideação suicida.


É preciso que toda a sociedade desperte e seja capaz de validar esse caminho, de cujo primeiro passo se extrai a essência da Humildade. Nós todos, homens e mulheres, idosos e crianças merecemos isso. Um mundo melhor, em que se lida melhor com o sofrimento mental, com a vulnerabilidade fisica, emocional social e espiritual. Isso, certamente, nos ajudará a sermos, nós mesmos, cuidadores de nós e dos outros, como fontes de alegria, bem estar, bom humor e qualidade de Vida. Enquanto houver um que sofre ao nosso lado, será sempre incompleta a nossa alegria.


Paz e bem!


Dr. Fabricio Henrique Alves de Oliveira e Oliveira é médico formado pela UFMG. Residência em Psiquiatria e Título de Especialista em Homeopatia. Atua como terapeuta, palestrante, médico e escritor, sendo autor de 3 livros. Seu mestrado, já concluído, e também seu Doutorado, em andamento, seguem, no Nupes-UFJF, sob a orientação de Dr. Alexander Moreira-Almeida e co-orientaçao de Dr. John Peteet , da Harvard Medical School. Maiores informações: www.drfabriciooliveira.com




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Postado por Redação, no dia 19/09/2019 - 09:17


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