E o talento inato para o xadrez? Segundo Kasparov, seu pai percebeu muito cedo que ele tinha jeito para o jogo, mas que essa característica só se transformou em uma super habilidade porque sua mãe o ensinou a estudar e praticar com afinco. A capacidade de perseverar descrita pelo enxadrista pode ter menos glamour do que a inteligência, mas tem aparecido com frequência crescente nas pesquisas sobre educação.
Estudiosos do tema, como a psicóloga americana Angela Duckworth, da Universidade da Pensilvânia, têm afirmado que a determinação é crucial para a aprendizagem. Em um de seus muitos experimentos detalhados sobre o assunto, Duckworth e Martin Seligman concluíram que a autodisciplina era um indicador duas vezes mais forte do que o QI (coeficiente de inteligência) para explicar as diferenças entre as notas de alunos dos EUA no fim do ensino fundamental. A contundência de descobertas desse tipo fez a preocupação sobre como ajudar crianças e jovens a desenvolver habilidades como a persistência ultrapassar os muros da academia e chegar aos formuladores de políticas educacionais. É um debate tanto instigante como complexo.
A crença na inteligência como principal explicação para o sucesso escolar, profissional e pessoal prevaleceu por décadas. Isso talvez se explique por que medir atributos como a capacidade de identificar padrões e fazer contas é mais fácil do que avaliar a tal habilidade para trabalhar duro descrita por Kasparov. Ser dedicado pode significar estudar três horas por dia para um aluno e seis para outro. Quanta perseverança é necessária para melhorar a aprendizagem?
Experiências como a de alguns países asiáticos mostram que o excesso de disciplina pode acabar sendo prejudicial à saúde, ainda que garanta resultados brilhantes em testes de aprendizagem. Como atingir o equilíbrio? A lista das chamadas habilidades socioemocionais ou competências do século 21, mencionadas como importantes, é longa. Dedicação, autocontrole, extroversão, capacidade de trabalhar em grupo e de sentir empatia são apenas algumas delas. É viável trabalhar todas na escola? Como? Estudiosos reconhecem a necessidade de mais pesquisas para responder a essas perguntas.
A falta de respostas mais conclusivas não invalida, porém,
as tentativas de reformular currículos com base no que já é conhecido. As
experiências nessa direção têm servido como insumo para avaliar as iniciativas
de maior e menor êxito. É, portanto, alentador o fato de que o governo
brasileiro pretenda incluir as competências socioemocionais na Base Nacional
Comum Curricular, como revelou o jornalista Paulo Saldaña em <a
href="http://www1.folha.uol.
Embora seja o ponto de partida, a base precisará apresentar diretrizes claras, fundamentadas nas melhores experiências nacionais e internacionais. Só assim conseguirá guiar as redes na formulação de currículos capazes de melhorar o sofrível desempenho dos estudantes brasileiros.?
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
Fonte com título adaptado:
<http://www1.folha.uol.com.br/
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Escrito por Educação, no dia 03/03/2017