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Educação


Discussões políticas com alunos



É comum ouvir colegas discutindo sobre política na sala dos professores, mas parece que a maioria evita esse tipo de conversa. Muitos buscam uma postura de neutralidade, bem própria daquela formação moral e cívica recebida na ditadura militar, de patriotismo submisso e silenciado. E essa postura política alienada, com frequência, é adotada nas salas de aula.

Raramente vemos professores fazendo discussões políticas com seus alunos. Muitos dizem que estão ali para transmitir conteúdos, e não discutir ideias. É nisso que somos tacanhos. Uns acham que política é assunto de adulto e não deveria ser tratado com adolescentes.  Outros assumem, simplesmente, uma postura política fanática e intransigente e não querem 'perder tempo' ouvindo ideias divergentes. Há os que acham que adolescentes não têm opinião sobre assuntos políticos e que sempre são contra qualquer sistema.

Pior postura é aquela dos docentes que colocaram na cabeça que escola não é lugar para discussões políticas, ou que, no máximo, isso cabe a professores de História e Sociologia. Será que Stephen Hawking, o famoso físico contemporâneo que acaba de anunciar seu apoio milionário a um projeto que pretende enviar naves do tamanho de um chip a viagens interestelares, no chamado Destino Alfa Centauri, tomou essa decisão apenas movido  por princípios e razões da Física como ciência? Evidentemente que não. Esse é um baita projeto cidadão político-científico.

É esquisita essa atitude de aversão e recusa de professores em fazer discussões políticas com seus alunos. Ainda que a tendência mais natural seja a criação de animosidades dentro das salas de aulas por causa das polarizações extremas do contra e do a favor, o professor precisa aprender a dar conta de fazer a gestão das discussões, chamando os alunos a reflexões de que os dois lados precisam, como a questão da ética na política, por exemplo. Hoje, algo grave.

Infelizmente, não ocorrem nas escolas boas discussões interdisciplinares. Estamos passando por um momento da vida política brasileira que justificaria intensos debates nos auditórios das escolas, orientados por professores de áreas afins e não afins com duas classes, pelo menos.  Os alunos precisam ser desafiados a pensar, coletivamente, acerca da cidadania construída no Brasil, nos últimos anos e o tipo de cidadania que eles estão praticando. Uma das grandes falhas do modelo escolar clássico é formar o aluno para se pensar sempre no futuro, enquanto o presente histórico deles fica à mercê, à deriva e totalmente alienado. Essa coisa de formar o aluno para uma hipotética e, talvez, possível futura cidadania é um dos piores procedimentos da escola. Temos construído alienações coletivas irreparáveis, sobremaneira no ensino médio, ao reduzir a cidadania dos alunos a treinamento para o Enem. Simplesmente lamentável!

Muitos alunos das duas últimas turmas de 3º ano do ensino médio com que trabalhei me rejeitaram fortemente, porque incluí um capítulo sobre ideologia, por sentir que havia a lacuna desse estudo na apostila deles. Enquanto eu via a necessidade de eles dominarem os conceitos de ideologia de direita, de centro e de esquerda, analisarem a origem deles e o impacto social que provocaram a partir da Revolução Francesa e das análises de Karl Marx, muitos me perguntavam para que aquilo, se não estava na apostila e não caía no Enem. Eles não percebiam, mas esse conteúdo está, sim, no Enem, só que de forma aplicada à associação com outros conceitos, ou de forma implícita. Por pouco pediram minha cabeça ano passado. Hoje devem estar acompanhando a política nacional e entendendo onde estão os embates e enfrentamentos ideológicos se aprenderam o que ensinei - mesmo a contragosto deles.

Os professores precisam fazer discussões políticas com seus alunos para muito além do objetivo de treiná-los para avaliações oficiais. Não é o Enem que vai definir e formar a cidadania deles.  Muitos só reconhecem isso depois que passam por nós. Outros continuam alienados à imagem e semelhança de um modelo escolar que forma para a cidadania e não na cidadania. É isso! (risos).

José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: joseantonio281@hotmail.com



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Escrito por Educação, no dia 09/05/2016




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