Estou preocupado com o ar de cansaço no rosto dos professores jovens, já no início do ano letivo. O que está acontecendo?
Dar aulas é trabalho intelectual e físico desafiador. Apesar disso, não era de se esperar que os professores jovens já estivessem com o ar de vencidos pela rotina como os veteranos. Essa realidade requer atenção urgente das secretarias municipais de Educação, superintendências de Ensino, secretarias estaduais de Educação, MEC e todos os governos, além dos Sindicatos dos Professores.
Não é possível falar em saúde e bem-estar da sociedade, ignorando a condição de trabalho e de saúde dos professores. Eles são a razão da trajetória formativa de qualquer comunidade. Se, de um lado, há uma demanda enorme por vagas em escolas públicas e particulares, vinda de profissionais jovens, por outro lado é assustador o volume de desistências da profissão, os tipos de queixas dos professores e o cansaço deles em pouco tempo de docência. Se o trabalho já é cansativo em si mesmo, ele se torna muito mais quando submetido a condições humilhantes, desvalorizadoras e estressantes. Não há idade que aguente a desvalorização e as cobranças, como também as atitudes contraditórias da sociedade pela profissão.
Tenho lido sobre o processo de trabalho de professores em algumas escolas alternativas. Nelas os professores também ficam muito cansados, uma vez que o acompanhamento do aluno é personalizado, feito ombro a ombro, pessoa a pessoa, com muitos registros. Todavia, há algo que chama a atenção nessas experiências: Apesar do desafio, a desistência dos professores é menor. Não disponho de nenhum dado de pesquisa nesse sentido, mas creio estar certo, pelo que pude observar na realidade das escolas democráticas que visitei até agora.
Tenho apostado também na hipótese de que, nessas escolas, o professor recebe o mesmo tratamento personalizado que ele dá ao aluno. A cultura escolar delas, via de regra, está pautada na ajuda do trabalho solidário e de equipe entre os professores, na admissão só de professores que se identificam com o projeto educativo da escola, no amplo conhecimento do projeto educativo por todos os segmentos da comunidade educativa, desde os serviçais, até o diretor. Além disso, asseguram a existência de assembleias de alunos com elaboração de regras por eles próprios, currículo mais flexível que possibilita o cumprimento do conteúdo básico curricular a partir de estudos em grupos, educação pela pesquisa e utilização de dispositivos pedagógicos. Isso implica em cultura de cuidado pela educação, respeito entre pares e superiores, disciplina, dedicação, grande decisão e vontade de aprender, dentre outras habilidades sociais e cognitivas.
Ainda que não seja possível encontrar todos esses elementos em uma só escola de pedagogia democrática, é possível verificar nelas alguns pilares essenciais que têm garantido a motivação dos professores jovens e sua continuidade na profissão, enquanto os demais das escolas de modelo tradicional estão cansados e decepcionados. Muitos já concluíram que não dá para ser professor, falando cinquenta minutos à frente de alunos que vivem no mundo de relações em rede. Sentem na pele que a sala de aula não é rede, é grade. Enquanto redes são estendidas e possibilitam avanços, grades paralisam o movimento.
Vou ilustrar como imagino o cansado do professor jovem, construindo uma metáfora. Ele sabe que retornando à escola vai encontrar o mesmo arroz. Sabe ainda que terá de se desdobrar para transformar aquele alimento insosso e insano em um bolinho de arroz saboroso. No início agrada, pois dá a impressão de que a escola vai ganhar sabor, mas com o tempo a prática docente cai na vala comum e o professor jovem não sabe o que fazer mais com o arroz. O jeito é engolir inteiro, pois continuará sem sabor.
A verdadeira preocupação com o professor jovem, grande esperança e promessa para o funcionamento da escola tem de passar por uma corajosa e radical transformação da rotina escolar. Para isso vou deixar uma reflexão: A dificuldade para fazer a transposição do modelo clássico de educação para outro em que os professores se sintam motivados é uma dificuldade cultural ou legal (da legislação)? Que tal provocar esse debate na sua escola?
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Escrito por Educação, no dia 26/02/2016