Talvez você se lembre de que, em 2010, escrevi sobre a Escola da Ponte. Agora, estou de volta com notícias sobre esse projeto educativo diferenciado que tem chamado a atenção dos brasileiros, há anos, por várias razões.
Quem visitou a Ponte, como tive oportunidade, voltou com perguntas que realmente instigam à reflexão: Como alunos de uma escola pública que funciona até o nono ano, boa parte vindo de outras escolas em situação social de risco, sem cuidados de adultos ou com necessidades educativas especiais conseguem aprender, argumentar com fundamentos, obtêm resultados nas avaliações oficiais do governo português quase sempre superiores aos de outros lusitanos de escolas de método tradicional, desenvolvem habilidades sociais como um forte senso de cidadania crítica, autonomia, responsabilidade e criatividade? Pois assim é.
Acabei de estudar o livro ?A escola da Ponte sob múltiplos olhares: palavras de educadores, alunos e pais? organizado pelo idealizador do projeto, o professor José Pacheco, ex-diretor da Ponte e Maria de Fátima Pacheco. Simplesmente fiquei emocionado, principalmente com depoimentos de alunos e ex-alunos, como apresento, a seguir.
No livro citado, um brasileiro diz à ex-aluna: ?É realmente emocionante vê-la relatar, com paixão, sua passagem pela Ponte. Fico imaginando que você, durante aqueles nove anos, tinha horário para entrar, mas não para sair da escola. Conte-nos um pouco sobre isso. Os alunos ficam à vontade para desenvolver pesquisas na Escola da Ponte fora do horário mínimo de atividades? Desejo-lhe felicidades nessa nova etapa de sua vida. E, se me permite, satisfaça-me ainda uma curiosidade: você nunca pensou em trabalhar nessa escola que tanto ama??
A ex-aluna responde: ?Não fazia ideia de que conseguia transparecer a paixão que tenho pela Ponte! Fico muito contente por ver que o faço e que, de certa forma, está sendo bem recebido por aqueles que leem as minhas respostas. Não são nada mais do que verdades. Porém, tenham presente a ideia de que mesmo as rosas têm espinhos!
O meu grande problema sempre foi gostar demais da escola, não de qualquer uma, mas da Ponte! Os meus pais tiveram muitos problemas comigo na educação infantil, pois a adaptação nunca aconteceu de fato. Porém, assim que entrei na Escola da Ponte, tornou-se a ?desadaptação? à escola! Ansiava por entrar e desejava nunca sair!
A Ponte era quase uma casa, mas como não era um casa, tinha hora para fechar. Contudo, nunca nos foi negado o desenvolvimento de atividades escolares (pesquisa, trabalhos, etc) após o horário escolar ?obrigatório?. Além disso, havia projetos de atividades extracurriculares a serem desenvolvidos para aqueles alunos cujos pais não tinham possibilidade de buscarem seus filhos ao término ?das aulas?. Dessa forma, a escola encontrava-se aberta e a possibilidade de ficar um pouco mais saciando a curiosidade era providenciada.
A ideia de trabalhar na Escola da Ponte várias vezes passou pelo meu pensamento. Porém, a vida de professor no nosso país já teve dias melhores e, como o ensino não é a minha vocação, deixo-o àqueles que, muito melhor do que eu, praticam-no! Estarei sempre por perto, para apoiar em qualquer situação. ?
Você conhece algum aluno ou aluna que, recém saído do nono ano, tenha uma argumentação e um vocabulário desse nível aqui, no Brasil? Poucos, não? Mesmo os de escola particulares. Conversei com alguns e fiquei impressionado pela postura cidadã e capacidade argumentativa. Continuo relatando sobre a Ponte para muitos conhecidos e alguns perguntam se ela funciona mesmo. Não é hora de pensar em outra cultura escolar em todas as redes em nosso país? Pense bem!
Sugestão de leitura
A Escola da Ponte sob múltiplos olhares: palavras de educadores, alunos e pais. Organizadores: José Pacheco e Maria de Fátima Pacheco. Editora Penso, 2013.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
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Escrito por Educação, no dia 26/02/2016