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Renata Assis


Mentiras que os padrões de beleza te fizeram ou te fazem acreditar



Renata de Assis Pereira
Psicóloga Clínica
CRP 04/47595

É preciso falar sobre padrões de beleza que, há décadas, fazem vítimas na sociedade. Apesar de homens serem afetados por eles, é sobre as mulheres que a cobrança recai de maneira mais feroz. Por vivermos em uma sociedade patriarcal em que os padrões foram ditados pelo sexo masculino, muitas vezes e em muitos lugares a figura feminina ainda é vista como aquela que precisa viver em função de agradar os homens e atingir certos padrões de beleza e comportamento para serem aceitas num mundo em que a aparência ainda conta muito. E, nessa busca tantas vezes desenfreada por uma perfeição inatingível, a competição feminina é reforçada, assim como algumas mentiras nas quais você pode ter acreditado por um tempo. Vou citar 5 para você:

1. O corpo perfeito existe

Se durante o Renascimento as mulheres com curvas eram exaltadas por pintores, bastou o século XVIII dar as caras para que um novo padrão fosse imposto: o das cinturas finas desenhadas por espartilhos. Nos anos 50, quem ditava o corpo ideal era Marilyn Monroe, e as curvas voltaram a ser sinônimo de beleza. Alguns anos mais tarde, nos 80 e 90, a moda já era ter perfil de modelo: mulheres altas e magras, mas o padrão europeu continuava ditando o que era bonito e feio. Nos anos 2000, apesar de as revistas continuarem reforçando o biotipo branco, alto e magro, programas de TV ditaram uma nova estética: o corpo sarado de academia, com peitão, bundão, coxão, bem vibe Panicat.

Mulheres gordas nunca se sentiram representadas, nem mesmo na Idade Média. Afinal, ter um corpo curvilíneo era considerado diferente de ter um corpo gordo. Qualquer outro padrão que fugisse do europeu também era descartado: mulheres negras, amarelas, de cabelos afro, de nariz grande... Um corpo “perfeito” sempre é colocado para que então seja alcançado.

Hoje, com as redes sociais, pessoas já recorrem a procedimentos estéticos para ficarem parecidas com filtros do Instagram. É a prova máxima de que o tal corpo perfeito é uma mentira. Filtros são responsáveis por retratar uma realidade que nem mesmo existe. É irreal. O corpo perfeito realmente existe, mas não nessas definições. O corpo perfeito é um corpo livre, saudável e com autoestima e saúde mental em dia.

2. Só é bonito aquilo que se vê na revista, na televisão ou nas redes sociais

Beleza é algo relativo. O que é bonito para mim pode ser feio para você, mas é difícil acreditar nisso quando você vê estampado por aí os mesmos tipos de rostos e corpos. Ou então, trazendo a conversa para um contexto mais atual, quando você entra no Instagram ou TikTok e percebe que uma infinidade assustadora de “famosos da internet” tem o mesmo biotipo, parecendo versões de uma mesma pessoa.

E aqueles que não se encaixam nesse padrão? Movimentos como o do Body Positivity e do Corpo Livre chegaram para questionar esse “monopólio da beleza”, e mais representatividade está sendo vista. Contudo, o topo ainda é dominado por padrões estéticos que variam do europeu, alto e magro ou europeu, sarado e com bocão. É preciso continuar questionando isso e parar de uma vez por todas de acreditar que só são bonitos aqueles que protagonizam séries, estampam capas de revistas e ganham milhões de curtidas no feed.

3. Todo mundo pode alcançar o corpo ideal, é preciso apenas se esforçar

Ah! Existe meritocracia dentro dos padrões de beleza. Quantas vezes você já não ouviu que fulana só é gorda porque quer ou então por que não consegue fechar a boca? Ou que cicrana deveria alisar o cabelo, pois ficaria muito mais bonita?

Existe uma falsa ideia de que toda mulher consegue conquistar uma versão de si mais aceita pela sociedade, basta querer. Mas e se ela não tiver um biotipo que torne isso possível? E se, o que é mais importante, ela não quiser? Essa ideia de que “basta se esforçar” pode causar uma frustração muito grande, que pode acabar desencadeando quadros de ansiedade, depressão e distúrbios alimentares seríssimos. Mas vale tudo na busca pelo corpo perfeito? Posso afirmar que não! Primeiro que ele nem existe do jeito que nos foi ensinado.

4. A aparência é só um detalhe

Mentira, não é. Mas os mesmos padrões que tentam te convencer disso são aqueles que não contratam uma mulher negra capacitada para a vaga de emprego por causa do black power ou dispensam aquela mulher gorda incrível porque, bem, ela é gorda. E daí os próprios padrões estéticos, que causam uma frustração danada em tantos, usam essa desculpinha de que não foi pela aparência, foi por outro motivo, para encobrir o fato de que vivemos em uma sociedade machista, racista e gordofóbica. Padrões são uma mentira, uma ilusão bem planejada que faz boa parte da sociedade crer, religiosamente, em tudo o que lhe é imposto, menos em si mesma, seguindo perdida em busca de alguma satisfação pouco duradoura que lhes conduza.

5. Você vai ser mais feliz quando “entrar na moda”

Compreenda, você se tornará uma pessoa bem mais feliz quando conseguir aceitar seu corpo e parar de lutar contra ele. Fazer 550 mil dietas, sem acompanhamento de um profissional especialista na área, pode desencadear vários distúrbios alimentares. Quando você acredita que, para se encaixar na moda, deverá ser magra, alta, você pode estar cometendo um erro, é preciso observar se ser magra e alta faz parte do seu biotipo, enquanto não tiver essa consciência poderá ou continuará a sofrer muito.

É preciso atenção aos padrões que te fazem acreditar que você vai ter uma vida muito melhor, ou se irá fazer muito mais sucesso ao se encaixar nele. Você precisa compreender que a felicidade depende de você, não de terceiros e padrões estéticos e comportamentais. É claro que eles não são proibidos. Muitas mulheres procuram serviços de personal trainer e procedimentos estéticos, e sentem-se mais contentes depois, afinal isso envolve saúde e bem-estar emocional. Mas essa busca pela felicidade deve vir de você, não da imposição alheia, e não pode se tornar uma ilusão. Você vai ser muito mais feliz quando sentir que, enfim, é uma mulher livre.

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Escrito por Renata Assis, no dia 04/05/2021

Renata de Assis Pereira


Psicóloga
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