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Educação


Conferência sobre ateísmo no Vaticano



O Estado é laico, pelo menos 80% da população estudantil está nas escolas públicas ditas laicas e a sociedade se declara democrática. No entanto, a educação escolar continua preconceituosa, com forte doutrinação religiosa e política, apesar de recorrentes discursos sobre a necessidade de respeito às diversidades culturais. O evento descrito abaixo deve ter irritado muita gente.
Do dia 28 a 30 de maio, o Vaticano, centro espiritual e político da Igreja Católica, sediou um evento inusitado, se considerarmos seus princípios. Tratou-se da Understanding Unbelief, apresentada como a maior conferência mundial sobre ateísmo. Justificado, pois não existe lugar de maior ateísmo que o Vaticano, onde os que pregam são os que menos creem.
O programa, financiado pela Fundação John Templeton, foi organizado por quatro instituições acadêmicas, todas do Reino Unido. A Universidade de Kent coordenou o encontro e colaboram as universidades Conventry, Queen's e de Saint Mary. Exatamente: Saint Mary. Ironia, não?
"Este evento não se realizaria no Vaticano se não fosse por uma efeméride: trata-se do 50º aniversário de uma conferência semelhante realizada no Vaticano", afirmou à BBC News Brasil o antropólogo Jonathan Lanman, diretor do Instituto de Cognição e Cultura e professor da Universidade Queen's Belfast, um dos organizadores do evento. Ele contou que um dos pesquisadores entrou em contato com o Vaticano e então "eles concordaram em revisitar os temas da 'incredulidade'". Os ultraconservadores e conservadores, como a estranha ministra Damares, relutam em aceitar que o espaço social da fé está secundarizado a cada dia e semana, mês e ano. Na verdade, essa tentativa louca de reeducar a sociedade para o retrocesso religioso medieval não passa de um delírio descabido para o século XXI.
A conferência de 1969, a primeira do gênero sobre o tema, ocorreu como consequência da abertura provocada pelo Concílio Vaticano II, ocorrido de 1962 a 1965. O papa Paulo VI (1897-1978) era um entusiasta do diálogo com outros cristãos, judeus e adeptos de outras religiões. E também criou um secretariado próprio para ouvir a quem chamava de "descrentes". Segundo suas palavras, o ateísmo era "um dos assuntos mais sérios de nosso tempo". O papa Francisco, que comanda a Igreja Católica desde 2013, já deu mostras de que procura abordar os ateus de forma respeitosa e sem um discurso de oposição. No início deste ano, por exemplo, ele disse que é melhor viver como ateu do que ir à missa e nutrir ódio pelos outros. "Quantas vezes vemos o escândalo das pessoas que passam o dia na igreja e depois vivem a odiar ou a falar mal dos outros", afirmou ele.
O evento teve painéis que debateram o que leva pessoas a crerem e o que leva pessoas a não crerem em Deus. Participaram maioritariamente pesquisadores acadêmicos interessados no tema, como sociólogos e antropólogos, teólogos e filósofos - mas religiosos também são bem-vindos.
Em outubro de 2018, ele havia condenado publicamente o fato de muitos católicos lavarem dinheiro sujo, explorarem seus funcionários e cometerem delitos. "Há muitos católicos que são assim e eles causam escândalos", disse o pontífice. "Quantas vezes todos ouvimos pessoas dizerem 'se esta pessoa é católica, é melhor ser ateu'?".
O evento daquela semana teve a chancela do Pontifício Conselho para a Cultura, dicastério criado em 1982 pelo papa João Paulo II (1920-2005).
Assusta saber que notícias como essas são recebidas com muito ódio por alguns devotos cristãos da direita e da ultradireita de várias Igrejas, numa sociedade dita democrática e com forte discurso de tolerância social e intelectual, em um Estado laico?
Será que as violências e explorações sociais no Brasil estão sendo promovidas pelos agnósticos, céticos ou ateus? Seriam os descrentes geradores e culpados de todos os males sociais, numa sociedade maciçamente cristã? Há algo estranho nisso tudo. A conta não está fechando. Quando teremos uma educação de fato para a tolerância à diversidade ideológica e cultural? Perguntas sem respostas, pelo menos neste momento.



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Escrito por Educação, no dia 17/06/2019




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