Fotos: Rafaela Melo e P. de Souza
Aos 60 anos, a pensionista Helena está prestes a se aposentar
Aos 74 anos, Luiz Pinto Damasceno não pensa em parar. Aposentado, com registros em carteira como apontador, na prefeitura de Lafaiete, e em empreiteiras, hoje atua como manobrista no estacionamento do Supermercado BH: “Deus me deu saúde, e a gente precisa complementar a renda. Não dá para ficar parado”, diz. A história de Luiz reflete um fenômeno cada vez mais comum no Brasil: o retorno de aposentados ao mercado de trabalho. Com o valor das aposentadorias, muitas vezes, abaixo do necessário para uma vida digna, muitos idosos voltam à ativa para complementar a renda da família, mantendo a mente ocupada, o corpo ativo e o senso de pertencimento social.
Aos 74 anos, o aposentado Luiz não pensa em parar de trabalhar
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira vem envelhecendo em ritmo acelerado. Atualmente, já são cerca de 21 milhões, das quais aproximadamente 4,5 milhões permanecem ativas no mercado de trabalho. Em 2016, durante a recessão econômica, muitos aposentados retomaram a busca por vagas de emprego, trazendo um perfil que, segundo especialistas, alia comprometimento, pontualidade e experiência - qualidades cada vez mais valorizadas. Em Lafaiete, essa realidade também se impõe. Dos 132.621 habitantes, 23.419 já têm 60 anos ou mais, o que representa cerca de 18% da população.
Parte expressiva desse público está buscando oportunidades para complementar a renda ou continuar socialmente ativo. Renda e rotina “Só o dinheiro do INSS é muito pouco, não é? Aí eu vi a vaga e corri”, conta Rita de Cássia de Paiva Bezerra, 63 anos, moradora do bairro Matriz, em Congonhas, hoje funcionária na padaria do supermercado Farid. Com quatro netos e muita experiência profissional, ela está entre os mais de 8.300 congonhenses com 60 anos ou mais e voltou à ativa com bom humor e disposição. “Minha filha falou: 'Mãe, vão contratar até velhinhos lá!'. Fui e consegui. Graças a Deus, estou gostando. A velhice é ingrata. Se a pessoa não se movimentar, não vive”, resume.
Geraldo, 73 anos, encontrou no emprego uma espécie de “terapia”
Para muitos, como Rita, a volta ao trabalho também representa uma reorganização positiva da rotina. Geraldo Antônio Neves, 73, encontrou no emprego uma espécie de “terapia”. “Aqui, além do salário, a gente se distrai, conversa com novas pessoas. Tem várias vantagens”, diz Antônio, que hoje trabalha no açougue do supermercado Farid. Aos 60 anos, a pensionista Helena de Lourdes Marques está prestes a se aposentar, mas hesita. Funcionária de um supermercado há quase duas décadas, já foi padeira, confeiteira e hoje é encarregada, mas teme o vazio que pode surgir com a inatividade. “Como vou ficar só em casa, com os meus bichinhos? A gente pensa outro lado também”, admite.
Em Lafaiete, dos 132.621 habitantes, 23.419 já têm 60 anos ou mais, ou seja, cerca de 18% da população
Supermercados como porta de entrada
Diante da escassez de mão de obra jovem e da alta rotatividade nos setores operacionais, os supermercados têm sido uma das portas de entrada mais acessíveis para o retorno dos aposentados ao mercado. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que até 70% das vagas operacionais no setor enfrentam dificuldades de preenchimento. A falta de interesse dos mais jovens por essas vagas e a busca por formas de ocupação alternativas, como o empreendedorismo informal e o trabalho remoto, tem contribuído para o aumento da presença de aposentados no setor supermercadista, especialmente nas funções operacionais.
Vida ativa, digna e possível
Para os aposentados que retornam ao trabalho, a motivação vai além do dinheiro. Há o desejo de manter-se útil, de socializar e de sentir-se produtivo. “Se tiver saúde, vamos trabalhar. Não pode ficar parado. O serviço está aí”, diz Luiz Damasceno, que ainda encontra tempo para acompanhar partidas de futebol e visitar a família. O movimento crescente de idosos em busca de ocupação reforça a importância de incluir essa faixa etária no mercado de trabalho. Enquanto parte da juventude opta por outras formas de ocupação - como o empreendedorismo informal ou o trabalho remoto, a geração mais experiente segue como um ativo valioso: resiliente, dedicada e plenamente capaz de contribuir. A longevidade chegou para ficar, felizmente. E, com ela, um novo perfil de trabalhador começa a se impor - aquele que já se aposentou, mas não se acomodou.
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Postado por Maria Teresa, no dia 01/06/2025 - 13:33