De repente, a vida escorre para outro mar e se percebe com nitidez corrosiva que o instável ser/estar neste mundo é a única certeza real da humanidade. Nós, um dia, partiremos; os que vieram depois de nós e aqueles que ainda virão também farão o voo de águia rumo à grande Luz.
Os amigos se vão e antecipadamente já sabemos da experiência do arder das memórias na pele. Guilherme: amigo, conselheiro, companheiro de uma mesma ordem social, a OAB.
Há pouco tempo, Boelsums fechou a página última do livro de sua vida. Encontrou as chaves, abriu a porta, vislumbrou o outro lado. Ah!, a plenitude da iluminação! E se foi. E, agora, lá no longe da fragilidade humana, brilha por ter cumprido o dever dos maiores deveres: exercitado a justiça, a paz, o direito... No novo equilíbrio, distante, dorme seu leve sono de rio que está florescendo em outras águas para desembocar em mar grande, de ondas amigas. Eis, aí, a inauguração de um surfista de terno e gravata.
Sim, doutor surfista que arrebentava quaisquer ondas para atender os fracos e desvalidos na faculdade, no seu escritório, na sua casa, e ainda encontrava tempo de surfar bem na calmaria desse gostoso oceano chamado família. Deixou esposa e um casal de filhos: alguém almejaria herança mais preciosa? Jamais!
Advogado, pai, ser humano que amava os estudos, a empatia, as literaturas internacional e nacional e, especialmente, local. Como se jogava com prazer à leitura de seus conterrâneos. Sua biblioteca que o diga.
Sabemos, por vivência própria – ou não –, mas sabemos o quanto de solidão e vácuo fica. E não há lágrimas bastantes para a conversão da dor em zona de conforto. Mas, quando quem partiu foi, é e será especial, este sentimento de vazio aterrorizador não nos sepulta porque a bagagem que nos deixou é muito sábia. Não, o que foi plantado, e bem plantado durante a jornada ao nosso lado, floresceu e aí está em gestos, vozes, família, amigos... Não se apaga.
Boelsums, sobrenome de um nome gravado na vida, nas coisas, nas pessoas. Instalado de lado, de frente, na retaguarda, nos vários planos de nossa existência e brilhando porque quem passa por este vasto mundo de Deus semeando a paz e o prazer de agasalhar o outro deixa uma estrada de bens incalculáveis: o abstrato mais bonito e intenso do mundo.
Guilherme não mais aqui está, mas continua, mas é e será aquele amigo digno, brilhante, elegante, pacificador que nos mostrou a vida como algo maior do que pensamos, que a busca pelos direitos e garantias do ser humano deverá sempre existir, pois ela que garante o brilho nos olhos nossos e dos nossos, no Oriente ou no Ocidente... Para que haja petições de risos e alvarás de liberdade cheirando a lírio... E nos ensinou, também, que há sempre algo maior do que sonha nossa vã ilusão de donos do mundo e dos outros.
Gratidão, doutor, por nos ter dado a oportunidade de ver em seu comportamento nos campos profissional e pessoal que vale a pena plantar nosso jardim, descansar no colo dos que nos são queridos, chorar e rir seguindo o ritmo da vida. E, mais ainda, por nos mostrar em lembranças vivas que a simplicidade é o grande tesouro da vida; vida com V maiúsculo de Verdade, de Vontade, de Vitória.
Paulo Antunes
Professor de Redação e Português, escritor, ator
Contato: profprantunes@gmail.com
OAB Lafaiete
Endereço: praça Barão de Queluz, 30 – Centro
Telefone: (31) 3762-5788
Rafael Pinhero Ank inaugurando a placa
Boelsums e sua esposa Janete
Familiares e membros da OAB Lafaiete
Secretária-geral adjunta, Flávia Maria Siqueira Camargos Gomide; secretária-geral, Renata Lina Oliveira Pinto; tesoureira, Nilda Martins Coimbra Lana Peixoto; Janete Rezende Alves Boelsums; presidente, Rafael Pinheiro Ank e o vice-presidente, Leonel de Freitas Barbosa.
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Postado por Nathália Coelho, no dia 28/08/2022 - 14:00