A crise econômica que se alargou em uma pandemia que já se arrasta há mais de 2 anos fez mais vítimas do que aquelas que sepultamos. Com uma inflação que não para de crescer e poder de compra do brasileiro sendo transformado em cinzas, famílias inteiras têm perdido sua estrutura. Sem emprego, sem ter onde morar e de onde tirar o essencial para comer e pagar as contas básicas, o destino de muitas delas tem sido a rua.
Basta dar uma volta pela cidade para se constatar essa triste realidade: marquises, viadutos e praças são agora o lar de quem foi despejado pela vida. A mendicância cresceu, assim como o número de pessoas que precisa ‘se virar como pode’, seja vendendo algo no sinal ou pedindo alimentos na porta dos mercados. Pessoas que até pouco tempo tinham uma vida normal, mas que foram arrastadas à miséria, e enquanto não encontram o caminho de volta, reviram lixeiras em busca do que comer ou vender.
Assistente social com especialização em Serviço Social e Dependência Química, a atual coordenadora do Centro POP, Kênia Fernanda Santos, afirma que, atualmente, há cerca de 35 pessoas vivendo em situação de rua em Lafaiete: “Esse número mantém-se ao longo dos anos, com pequenas alterações, visto que é variável diariamente”. Do ponto de vista humanitário, o número já seria grande, mas a impressão que se tem é de uma realidade ainda mais aterradora.
Um dos cartões-postais da cidade, o coreto da praça Tiradentes é hoje o endereço de várias pessoas. Elas se valem da cobertura do monumento para se abrigar das chuvas constantes e tentam guardar o pouco que ainda lhes resta em caixas de papelão. O Monumento aos Trabalhadores, no Areal, é o abrigo de mais um trabalhador, que ao fim de uma jornada como catador de papelão, busca no bem tombado pelo patrimônio municipal um lugar seguro para vencer a noite. No Carijós, o Memorial do Milênio empresta suas formas como abrigo a quem não tem mais um lar. Já no Viaduto do São Dimas, formas da estrutura que sustentam o trânsito de uma BR ofereceram uma base para que um barraco fosse construído. Em cada um deles, histórias diferentes, que talvez nunca possamos conhecer, mas que dividem o mesmo drama: a falta de moradia.
E se o que falta é um teto em cima da cabeça, o jeito é mesmo se abrigar ao relento. Atualmente, a cidade não possui nenhum lugar onde essas pessoas possam passar a noite, mas há alguns serviços que são disponibilizados pelo Centro de Referência para População em Situação de Rua (Centro Pop). Conforme pontua Kênia Fernanda Santos, a equipe do Serviço de Abordagem Social realiza cadastros e encaminhamentos constantemente, conseguindo abordar toda a população em situação de rua. E o volume de trabalho é grande: “No Centro Pop, em dezembro de 2021, a soma total de atendimentos - incluindo banho, lanche, encaminhamentos, abordagens, atendimentos individuais, documentação e passagens – chegou a 645, entre moradores em situação de rua no município e migrantes, que residem aqui por determinado período e depois seguem viagem”, detalha.
E quem são ou de onde vieram essas pessoas? Conforme situa a assistente social, a questão da população em situação de rua deve ser compreendida em suas múltiplas determinações: “Fatores como a pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos, inexistência de moradia ou moradia precária, dependência química, desemprego, entre outros, levam as pessoas a utilizarem os locais públicos não só como moradia, mas como meio de sobrevivência”, explica.
Sobre o Centro Pop
Para ajudar um morador de rua, a orientação da assistente social é indicar a ele o Centro Pop. Situado na avenida Prefeito Telésforo Cândido de Rezende, nº 87, o serviço é regulamentado pela Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais/2009. Mais informações podem ser obtidas no local, pelo (31) 9 9239-6560 e e-mail: centropop@conselheirolafaiete.mg.gov.br
Os monumentos do Memorial do Milênio, na praça do Poliesportivo Municipal; dos Trabalhadores, perto da igreja de Nossa Senhora da Luz; o coreto da praça Tiradentes e o viaduto do bairro São Dimas são alguns dos espaços públicos que foram invadidos por pessoas em situação de rua em Lafaiete
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Postado por Nathália Coelho, no dia 13/02/2022 - 20:51