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Comunidade


Leo Ja(paz) a voar numa clave de sol




 

Para onde voa esse moço de olhos puxados e largo coração em forma de pautas musicais? Qual será o peso dessa ausência sonora nas costas dos fãs, amigos, familiares? Ou peso é palavra vã e bruta para se falar dessas levezas humanas que vêm à Terra para irrigar girassóis e papoulas na memória da pele e do sangue de quaisquer mortais?


Talvez, nesses momentos de partida, demasiado clara a ideia de Tom Zé em texto gravado por Elis em seu último disco antes de partir: “Agora o braço não é mais um braço erguido num grito de gol, agora o braço é uma linha, um traço. Um rastro espelhado e brilhante (...) Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra. Como uma estrela, agora eu sou uma estrela”.


Partida: parte (ida). Mas a outra parte fica; maior, mais estrela, e mais sol, e mais lua: partitura. Mais um voo... Mas, agora, só dele, na calma solidão de quem cumpriu a missão insondável, colorida, onírica... Talvez, em sua grandeza de passarinho em órbita, olhe para trás, um leve riso no rosto por ter presenteado ao mundo sua arte, sua obsessão de perfeccionista, sua multiplicidade de talento... Ou, talvez, só vislumbre à frente, olhos ras­gados no mais distante do infinito de galáxias acesas – por ter acariciado a terra com as mãos, plantado as sementes, inflado a gravidez e parido os filhos que se multiplicaram no dentro de quem foi tocado sonoramente por suas crias musicais: divindade das musas.


Mago? Zen? Menino?... Metamorfose singular, jardim em flor que os amigos não puderam abraçar no instante último, no momento da fala inaudível escorrendo pela fenda do tempo. Mas seu tempo – e o de sua voz, flauta, violino, gaita... – é o sempre, palavra abstrata que carrega universo afora os encantamentos que os grandes artistas modelam com paciência (e)terna. Então, pela terra e pelo mar, o vento o ajuda a levar sua porção mágica aos que têm olhos para ouvir e ouvidos para tocar o cálice e beber da beleza em ebulição. Fulgor plantado no PARA SEMPRE do registro das flores raras dos jardins secretos.


E restam, no agora, com perplexidade nos olhos os parceiros do Mago Zen, com vácuo no peito os admiradores, meio órfãos os irmãos de sonoridade... Léo Japa se foi. Mas sua música se multiplica... e a terra, e a água, e o fogo e o ar agradecem as sementes e flores: notas musicais, mundo zen.
Durma em paz, durma bem. E se acorde no além das lembranças que gestou com o mesmo encantado brilho no coração, o mesmo olhar diferenciado de ver, ouvir e fazer melodias para a festa do universo, o banquete dos sobreviventes, a tão sonhada paz no Afeganistão de todos nós.





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Postado por VICTOR HUGO DO CARMO ROCHA, no dia 13/09/2021 - 15:04


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