Geraldo Lafayette
Teatrólogo e secretário de Cultura
glafaiete@gmail.com
É fato que um dos setores mais afetados pela pandemia e suas consequências é o da Cultura. Há mais de um ano que estamos vivendo esta catástrofe cultural, assistindo quase que impotentes ao fechamento dos teatros, cinemas, museus, bibliotecas, centros culturais, feiras de artesanato, escolas de artes, bares palcos, eventos e shows. Um verdadeiro deserto artístico cultural tomou conta do dia a dia do Brasil e do mundo. Necessário? Talvez.
Quem somos nós para discutir protocolos de saúde pública numa crise sanitária de dimensões mundiais. No entanto, cabe-nos outras discussões: Como que este isolamento (distanciamento) social afeta o artista, o produtor ou o prestador de serviços da Cultura? Como conviver com este paradoxo, onde a cultura tão fortemente impactada, também se faz tão essencial no fortalecimento da alma e na contribuição da saúde mental e emocional das pessoas?
Nunca se ouviu tanta música, se leu e escreveu tantos livros, poemas, contos, artigos; nunca tanto se desenhou, pintou, cantou, dançou, escreveu, maquiou, costurou, cozinhou, rezou... nunca a arte foi tão necessária à sobrevivência saudável das nossas mentes quanto nestes últimos meses de isolamento social. O “fique em casa” fez com que o consumo da televisão paga ou não crescesse absurdamente; que as mídias virtuais fossem avassaladoramente acessadas, por pessoas que jamais pensaram em fazer tanto uso da internet. Enriquecimento de uns e empobrecimento de outros.
Neste cenário, é importante que conversemos e reflitamos sobre o papel da arte e da cultura em nossas vidas; quando falo vidas, não me restrinjo ao individual; penso na nossa vida social, comunitária e coletiva. Faço um convite a uma avalição de como a Arte e a Cultura entram na nossa casa, na nossa vida? Quando e como isto acontece? Com que frequência um Artista ou o seu produto faz parte do nosso dia a dia? E ainda. Ao percebermos esta intervenção artística e cultural no nosso cotidiano, pensar em quantos profissionais estão por detrás desse fato?
Se assistimos a um filme ou novela na TV, quantas pessoas estão trabalhando atrás daquelas cenas? Se compramos um livro; lemos um jornal, assistimos a um show; peça de teatro; ouvimos um rádio; além daqueles que dão a “cara a tapa”, quantos trabalhadores estão por detrás da concretização daquilo que você “curte” ou desfruta?
Conclusão: Produzir Arte é trabalho. Ser Artista é uma profissão e os agentes desta profissão, também vivem, consomem, adoecem e precisam de diversão e proventos para manterem a si e suas famílias. Não são diferentes de ninguém.
Daí o grande dilema: Como andam as produções culturais neste tempo de pandemia? Quais os desafios estão enfrentando os protagonistas deste setor?
Consideremos que o Artista tem como inspiração para as suas atividades, a percepção do mundo das emoções e que, o processo da sua produção se desenvolve a partir da criatividade e motivação adquirida através das suas relações sociais e humanas. Sendo assim, o isolamento social subtrai do agente cultural a matéria prima da sua produção.
Com a pandemia o setor cultural diante das necessidades básicas que também lhe são peculiares, precisou se reinventar. Encontrar novas inspirações. Boa parte, buscou novos formatos para resistir à crise, alguns precisaram encontrar outros meios de subsistência, outros buscaram as tecnologias virtuais e a partir destas, resistem mesmo que de forma paliativa, até que a “onda” passe.
Porém, ninguém esperava que a “onda” fosse tão prolongada. Não se contava com uma crise tão grande e com riscos iminentes de morte. Muitos dos nossos se foram. A arte, já enfrentou muitas outras crises: financeira, política, social. O Artista já se acostumou à resistência e a quase marginalidade.
Em nossa região, talvez o número de pessoas que sobrevivam da Arte seja menor que nas grandes cidades e capitais, mas não estamos fora das estatísticas. É certo que muitos dos nossos Artistas regionais têm outras profissões além da Arte, que muitos ainda vivem sob a tutela dos familiares; que a Arte talvez seja um “passa tempo” ou uma renda suplementar. Mas temos aqueles que tem na Arte o seu principal meio de vida.
Ao lerem esta matéria poderão questionar sobre a Lei Aldir Blanc que hipoteticamente veio em socorro dos Artistas. O Senado ainda discute a prorrogação dos prazos para execução de muitos municípios que estão com estes recursos em caixa.
Podemos falar com orgulho, que em Conselheiro Lafaiete, graças à existência do Conselho Municipal de Políticas Públicas para a Cultura, à gestão do então Secretário Municipal de Cultura Rafael Lana e aos esforços do setor jurídico do Município, os recursos foram distribuídos em sua totalidade. Não vou aqui discriminar valores e receptores, mas os Artistas e Entidades cadastrados naquele momento, sabem quem e quanto receberam. Mas ainda assim, afirmo ser hipotética a ideia de que um pequeno valor, em momento muito pontual, tenha resolvido a produção, a necessidade e a crise que já perdura por mais de um ano. Os recursos da Lei Aldir Blanc não foram suficientes para resolver o problema do Artista e da Produção Cultural nem mesmo da nossa região.
E aí vem a grande questão: E amanhã? E o futuro? O que se tem de perspectiva para a produção cultural para os próximos meses, anos? E quem sabe? Não existe mágica! Não existe solução a curto prazo. Estamos enfrentando um momento cheio de perguntas e com muito poucas respostas. Não é uma realidade de Conselheiro Lafaiete e região. Pode ser uma realidade do Brasil inteiro, do mundo talvez. Não temos respostas de quando tudo isso acaba ou quando tudo recomeça.
Esperamos que, após estes momentos tão difíceis vividos, os gestores públicos percebam na Arte e na Cultura, um caminho para reavermos o entusiasmo de viver; e que através do produto que este setor oferece, consigamos ressignificar a importância do mesmo em nossas cidades, em nosso país, dando-lhe oportunidade e o respeito merecidos.
Artesãs na confecção de tapete arraiolo, um dos produtos mais comerciais do artesanato municipal
Sandro Benedita e Silas Petrucci, músicos
que vivem da arte em Lafaiete
Madrigal Roda Viva, em cada apresentação, muitas emoções
Academia Stela de Paula e Academia de Dança Kênia Najmah revelando talentos no mundo da dança
Eventos gratuitos na praça sempre alegram a população
Produções teatrais, como Perfume e o Cachecol Azul, foram prejudicadas por causa da pandemia
O Festival de Bandas já se tornou tradição na cidade
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Postado por Mariana Carvalho, no dia 18/04/2021 - 18:24