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Saúde


Médicos de CL vão à exaustão e colapso hospitalar se agrava




Dra. Edwiges da Silva Araújo pensou em sair, mas optou por intensificar o seu trabalho na pandemia

“As pessoas não acreditam na gravidade e devastação que essa doença trouxe. Subestimaram a Covid-19 e as medidas de prevenção. A ciência nos mostrou o caminho, mas muitos preferem negá-la. O negacionismo, a politização da doença, aliada à possibilidade de perda do poder aquisitivo devido ao impacto da pandemia na economia, foram os maiores propagadores do vírus, além da atuação desastrosa do nosso presidente e do Ministério da Saúde”. O desabafo feito pela diretora clínica do Hospital e Maternidade São José, dra. Edwiges da Silva Araújo, um ano após ter internado o 1º paciente infectado pelo coronavírus em Lafaiete (em 1º/04/2020) retrata a preocupação de quem vê a pandemia pelo lado de dentro.

Médica há 37 anos, mas atuando na área da Saúde desde os 16, a especialista em Cardiologia e Clínica Médica confessa que o quadro hoje observado vai muito além do imaginado no início da pandemia: “No início, sim, cheguei a pensar em me afastar do hospital, mas senti que faria falta e resolvi continuar e até intensificar meu trabalho. Tem sido muito difícil. Existe uma variedade muito grande de sintomas e diferentes acometimentos de paciente para paciente.  O maior desafio é fazer com que o paciente receba o melhor atendimento, seja muito bem acolhido, recebendo assistência multiprofissional de qualidade”, explica a dra. Edwiges.

E essa dedicação exigida também cobra a sua conta: “Toda a equipe encontra-se física e psicologicamente sobrecarregada, mas todos temos consciência da importância do nosso trabalho neste momento. Perdi alguns pacientes muito queridos – e isso é o que acho difícil de superar. Mas por mais que estejamos abalados, temos de deixar nossos sentimentos de lado e encontrar forças para conseguir confortar os familiares”, revela.

O que também causa sobrecarga é que o mundo não para e assiste à pandemia. Além do inimigo invisível que já ceifou mais de 100 vidas na cidade, acidentes e emergências continuam acontecendo e precisam receber a devida atenção: “Nós, do HMSJ, estamos tentando fazer o melhor para prestar um atendimento digno aos pacientes de covid enquanto continuamos atendendo às Urgências e Emergências da região. Por isso, nossa capacidade é limitada! Temos enfrentado inúmeros desafios, como falta e alta nos preços de medicamentos, oxigênio, equipamentos de segurança e insumos hospitalares essenciais. A sobrecarga de trabalho é grande, e eu agradeço a toda equipe do HMSJ que tem se esmerado para oferecer o seu melhor para todos que são atendidos”, reconhece a médica, que também alerta para a importância da prevenção:

“A vacina dá uma segurança, mas só funcionará quando alcançarmos uma porcentagem de até 60% da população imunizada. Como estamos longe disso, temos de continuar protegendo a nós  mesmo e às pessoas do nosso convívio. Cuidado! Ninguém tem estrela na testa! Qualquer um pode ser acometido de forma grave pela doença. A melhor forma de prevenir é manter o isolamento social e o uso correto de máscaras. E quando chegar sua hora, vacine-se sem medo”, finaliza.

Panorama nacional

O quadro desenhado pela diretora clínica do HMSJ é complexo e grave em todo o país. De acordo com um estudo realizado pela Fundação Os­wal­do Cruz (Fiocruz) com mais de 25 mil profissionais da saúde e divulgado no dia 22, 95% dos entrevistados sentem que a pandemia alterou o co­tidiano "significativamente", quase 50% relataram ex­cesso de trabalho, com jornadas longas para além das 40h semanais, e cerca de 45% afirmaram que necessitam de mais de um emprego para so­bre­viver. O estudo apontou, ainda, que 14% da for­ça de trabalho que atua na linha de frente de combate à covid-19 no Brasil está no limite da exaustão.

O estudo da Fiocruz indica que 43,2% dos profissionais de saúde não se sentem protegidos no trabalho. O principal motivo, para 23% deles, está relacionado à falta, à escassez e à inadequação do uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) – 64% deles revelaram que precisam improvisar equipamentos. Na saúde mental, as alterações mais comuns citadas pelos profissionais foram perturbação do sono (15,8%), irritabilidade e distúrbios em geral (13,6%), estresse (11,7%), dificuldade de concentração ou pensamento lento (9,2%), pensamento negativo ou suicida (8,3%) e alteração no apetite e do peso (8,1%).




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Postado por Clara Maria, no dia 11/04/2021 - 15:04


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