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Coronavírus zera o faturamento de metade das empresas de Lafaiete e já pode ter matado mais de 3.400 empregos




Os impactos da pandemia de Covid-19 e consequente o distanciamento social no comércio de Lafaiete já podem ser sentidos em números. Segundo uma pesquisa realizada pelo Sindcomércio, 94% das empresas da cidade ouvidas registraram queda nas vendas. E pior: 50% delas estão sem nenhum faturamento. “A pesquisa é uma amostragem da qual participaram empresas de vários segmentos, inclusive daqueles considerados essenciais e que, portanto, estão funcionando, mas também estão sendo impactados”, explica Bento José de Oliveira.


A consequência dessa queda brutal do faturamento é, exatamente, a que mais temíamos e está obrigando as empresas a buscar as adequações possíveis - algumas delas relacionadas aos seus trabalhadores: “Nesse ponto, a pesquisa mostra a preocupação dos empresários em tentar manter os empregos, já que a principal medida inicialmente adotada (52,9% dos entrevistados) tem sido a concessão de férias e, em seguida, a suspensão dos contratos de trabalho (30%). Mas 21,4% dos entrevistados não terão opção, a não ser demitir colaboradores”, acrescenta Bento José de Oliveira.

O tamanho do buraco

O que muita gente não consegue calcular em um primeiro momento é o tamanho desse problema. “Se considerarmos que o Comércio de Bens e Serviços possui cerca 16 mil colaboradores diretos [sem contar os proprietários], já podemos ter mais de 3.400 demitidos, ou seja, 3.400 famílias atingidas. Várias empresas estão fechando e a permanência da proibição de funcionamento das empresas irá agravar essa situação”, alerta Bento.


Pela análise do presidente do Sindcomércio, os números, ainda que retratando apenas o período inicial da proibição de funcionamento de alguns setores, permite uma projeção grave. “É uma dura realidade que precisa ser encarada e demonstra a necessidade de se encontrar caminhos para o combate à pandemia que não passem, unicamente, pela manutenção da maior parte com comércio fechado. Não se trata de reduzir o combate à pandemia, mas de definir regras mais rígidas e permitir o retorno gradual da atividade econômica”, pondera.


Comerciantes questionam critérios para funcionamento de lojas

Uma crise dentro da crise. Essa tem sido a vida de empresários da cidade, que estão com alvarás suspensos em razão da pandemia de Covid-19. Em plena recessão econômica, eles mantêm as portas fechadas e vendas praticamente zeradas, enquanto as contas não param de chegar. Sem perspectiva de mudança nesse quadro, muitos já demitiram ou suspenderam contratos. Outros já cogitam fechar as portas, caso não haja previsão de reabertura das lojas.


É o caso de uma comerciante de 42 anos, que pediu para manter o sigilo da sua identidade. Dona de uma loja de roupas femininas e infantis, ela revela ter medo de calcular o prejuízo já acumulado: “Meu faturamento mensal médio era de R$16mil, para um gasto de R$4mil para o funcionamento da loja. A maior parte das minhas vendas é feita no crediário e hoje eu não posso nem abrir a loja para receber as prestações. Como eu vou pagar as contas? Estou tentando vender e receber pelo WhatsApp, mas nem se compara. A população está muito insegura, porque o desemprego está aí”, lamenta.


Com 7 anos de mercado, a empresária já pensa em demitir e encerrar suas atividades. “Caso o comércio não seja autorizado a reabrir logo, vou fechar as portas. Fazer o quê? Vou ficar acumulando dívidas?”, desabafa a empresária, que também questiona os critérios usados para definir as atividades consideradas essenciais e que podem manter as lojas abertas: “A quarentena é importante sim, mas não está acontecendo: os supermercados estão cheios, farmácias estão cheias, casa de tintas podem abrir, de materiais de construção, elétricos e agropecuários. A lei não é igual para todos. Quantos lojistas e camelôs só têm essa fonte de renda? Eu não estou vendo ruas desertas. Acho que não está havendo quarentena nenhuma, só não podemos trabalhar.


A permissão para que apenas alguns segmentos possam dar continuidade aos trabalhos não é uma queixa isolada. Com 8 anos de mercado no setor de moda masculina, feminina e infantil, outro empresário viu seu faturamento de R$30mil mensais ser zerado: “Acho que essa quarentena foi malfeita e mal executada pelos órgãos em geral e não tem sido respeitada pela população. O decreto não é muito claro e co­mér­cios que poderiam estar fechados estão abertos. É o caso de lojas de tinta, chocolate, materiais de cons­trução e acabamentos, transporte público. Isso deveria ser diferente. Deveria haver mais critério para não beneficiar apenas alguns”, avalia.


Com mais de 60% das vendas no crediário, o empresário não só não vende como não consegue receber: “Tem um custo mensal médio de R$8mil. Como vou arcar com isso? Não consigo suportar mais que 15 dias nesta situação. Suspendi o contrato de trabalho das funcionárias, consegui prorrogar alguns boletos, estou negociando redução custo fixo, mas se não vendo não terei o que receber”, argumenta o empresário, que defende a organização para a reabertura do comércio. “As lojas já estavam vazias antes da quarentena. No meu segmento, não tenho mais que quatro ou cinco clientes na loja ao mesmo tempo. É possível se organizar para atender com segurança. Acho que essa possibilidade precisa ser estudada com mais seriedade”, defende.


“Não haverá vida normal antes de junho” - Cada prefeito tem autonomia para decidir sobre a abertura e fechamento do comércio e, segundo Mário Marcus (confira a matéria na página 6), não há perspectiva de reabertura do comércio por enquanto. Em termos gerais, de forma ampla, a flexibilização da quarentena não parece ser um assunto com muitos defensores dentro do setor de Saúde do governo de Minas. Em coletiva à imprensa, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, detalhou o cenário epidemiológico do estado e enfatizou a importância das medidas de distanciamento social. Destacou que as avaliações são baseadas em modelos matemáticos, que servem para orientação e preparação da rede de saúde. “O isolamento tem consenso internacional quanto à sua eficácia”, frisa.


Depois de afirmar que ‘não haveria vida normal antes de junho’, Carlos Eduardo Amaral destacou que ainda é cedo para se falar em um eventual retorno ou flexibilização do distanciamento: “Somente em momento oportuno [o retorno] poderá ser aplicado. Por isso, temos feito estudos com frequência”. O secretário mencionou que nos próximos dias deve haver uma nova projeção sobre o período provável para que se atinja o pico da curva de casos para Minas Gerais, atualmente esperado entre os dias 03 e 05 de maio. “Por ora, nossa projeção por demanda de leitos ainda está na casa de 5.900 pessoas necessitando de leitos clínicos e 1.500 a 2.000 podendo demandar terapia intensiva. Atualmente, estimamos em até 3% o quantitativo de leitos de UTI ocupados por pessoas com casos suspeitos da Covid-19”, apontou Amaral.




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Postado por Redação, no dia 22/04/2020 - 11:33


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