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Saúde


Lafaiete vive uma "epidemia de suicídios"

De acordo com Júlio Barros, é possível perceber os sinais e ajudar a evitar que alguém dê fim à própria vida




Isolamento social, frustração, carência afetiva, família desestruturada, relacionamentos, cobrança, pressão, drogas, falta de religiosidade e ausência de valores na vida humana: tudo isso é listado pelo psiquiatra Júlio Barros co­mo aspectos que influenciam uma pessoa a ter ideação suicida. E o problema vem crescendo de maneira mais assustadora do que se pensa. Segundo relata, em seus 35 anos de formação na área de psiquiatria, ele recebia, em média, in­formações sobre dois suicídios por ano.
Nos últimos tempos, essa mé­dia su­biu para dois casos ao mês. Em sua avaliação, o principal fator para es­se au­men­to está no avanço tecnológico e con­sequente isolamento social, es­pe­cial­men­te entre os mais jovens. “O ser humano é constituído para ter um convívio social. Veio a tecnologia e nos ofereceu coisas maravilhosas, como agilidade e conforto, mas nos afastou do con­vívio humano. Os jovens têm muita dificuldade de se comunicar e se isolam na frente da máquina. Hoje, o celular é uma parte do corpo. Os pais devem fi­car atentos quando perceberem que os filhos estão se isolando, nesse caso, precisam buscar ajuda”, alerta.
A mudança na construção e educação familiar também é um fator crítico. “Criou-se uma geração com muita oferta. A geração de 60 ouvia não com muita facilidade, mas esses jovens de hoje não têm, em sua estrutura, formas de lidar com a frustração. Então, quando algo lhes é negado, ameaçam acabar com a própria vida”, explica. Além disso, há influência dos diferentes padrões familiares e da inconstância nos relacionamentos parentais. “Hoje, nenhuma família é igual à outra. Há filhos que são criados apenas pelo pai, ou apenas pela mãe, ausência de avós. Às vezes, eles recebem de tudo, mas não têm um carinho ou abraço. Há um distanciamento do afeto e muita racionalidade”, explica. Os relacionamentos amorosos iniciados cada vez mais precocemente são outra causa comum de suicídio. “O jovem acaba tendo uma relação de dependência. Passa 24h com o companheiro ou companheira e, a partir daí, o olhar do mundo passa a ser através dele ou dela. O término desse relacionamento pode gerar frustração e pensamentos suicidas”, argumenta.

A fé também salva

Além desses aspectos de valores materiais, Júlio Barros aponta para a importância da fé e de valores espirituais. “Quanto se tem um ser superior, em qualquer religião, você transcende sua espiritualidade contrapondo ao materialismo. É fato que ninguém vive sem dinheiro. Entretanto, para haver equilíbrio, é preciso ter fé; acreditar. An­ti­gamente, falava em ser temente a Deus. Havia um simbolismo e a ideia de que quem cometesse suicídio, iria diretamente para o inferno. Entretanto, hoje não se tem tais valores. Então, essa pessoa é levada a ter pensamentos e cometer suicídio. A fé está entre os três aspectos fundamentais para que a pessoa dê valor à vida: espiritual, psicológico e físico”, lista.
Apesar de prevalecer, entre os que mais pensam em dar fim à própria vida a faixa etária de 15 a 45 anos, há casos de suicídio entre idosos e crianças: “Entre adultos, os casos mais frequentes envolvem muita cobrança e pressão para que se dê uma resposta a tudo. E essa pressão leva ao pessimismo, que também gera pensamentos suicidas. Já as drogas causam overdose e melancolia. É algo que afeta o cérebro não de forma psicológica, mas biológica mesmo, causando depressão. Quando o efeito da cocaína passa, a pessoa fica melancólica, começa a chorar e tem o desejo de se matar”, esclarece.

Como evitar

De acordo com estatísticas, 9 em cada 10 suicídios poderiam ser evitados. Mas, para isso, é preciso estar atento aos sinais, tanto na fala, quanto no comportamento: “Antigamente, a pessoa se suicidava sem comentar. Hoje a pessoa fala. Ela muda muito também. Observe quando uma pessoa que era mais animada não quer mais sair. Ou que gostava de comprar roupas e hoje não liga para a vaidade; não cuida do corpo. Emagrece demais. Não pensa no futuro, enxerga dificuldade em tudo, insiste que o problema dela é maior que o de todos e que diz não encontrar saí­da. Pessoas extremamente preocupadas com doenças, que se preocupam muito com assunto de morte. Que sonham com pessoas que já morreram ou que são saudosistas. Quem chega a falar que vai morrer, que a vida não vale a pena, que não sente mais prazer. Nesses casos, a pessoa vai se sentindo fora e se excluindo, com autoestima ne­gativa. Pesquise o ambiente onde essa pessoa está vivendo, seja familiar ou trabalho, e seus relacionamentos amorosos, casamentos em crise”, alerta o doutor.
Para o psiquiatra, a melhor maneira de lidar com isso ainda é conversando e buscando ajuda profissional: “É comum que essa mesma pessoa que pensa que o seu problema é o maior de todos perceba, em uma terapia de grupo, que há situações piores que a dela e que as pessoas conseguiram lidar com isso. Que ela não é a única pessoa do mundo com problemas. A partir daí, tem-se a abertura para questionar o que ela já pode ter pensado; qual ideia de morte. É ne­cessário saber da ideação suicida. É preciso questionar se o paciente já foi ao psicólogo – hoje em dia a ajuda profissional é melhor aceita. É preciso voltar ao assunto, sem receio de abordar o te­ma. A mídia é de grande importância nessa luta. É bom que essas pessoas leiam matérias sobre depressão; isso ajuda de forma positiva. Estamos vi­ven­do uma epidemia de problemas mentais e, infelizmente, isso não está sendo abordado de uma maneira tão necessária”, finaliza.

Serviço

Psiquiatra Júlio César
de Almeida Barros
Endereço: rua Benedito Alves Vieira, 590, São Dimas
Telefone: 3761-3731




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Postado por Redação, no dia 26/09/2019 - 10:04


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