Ninguém motiva ninguém, mas nenhum de nós resiste a um incentivo. Pode vir de qualquer pessoa. O que importa é que seja sincero e bem intencionado. Melhor ainda, quando esse incentivo é articulado e assumido pela gestão e funcionários, tornando-se uma espécie de cultura organizacional. Isso pode ser confirmado pelo programa educacional desenvolvido pelo governo peruano. Você pode treinar seu cérebro e se tornar mais inteligente.
Essa é a mensagem de um programa educacional simples e barato, chamado "Expande tu mente", que o governo Peru tem testado em suas escolas com impacto relevante na aprendizagem de alguns alunos. O projeto se baseia em pesquisas feitas nas últimas décadas por especialistas como Carol Dweck e Lisa S. Blackwell que mostram que a inteligência não é um ativo fixo e inalterável. Quem acredita que pode desenvolver mais habilidades tem maiores chances de atingir seus objetivos, segundo esses estudos.
Partindo dessa premissa, o programa - que tem apoio do Banco Mundial, da Universidade de Oxford e do grupo peruano de pesquisa Grade - consiste em uma única sessão na qual os alunos de ensino médio recebem um artigo curto chamado "Sabias que puedes hacer crecer tu inteligencia?"
O texto explica, de forma amigável e com ilustrações, como a nossa capacidade cognitiva é maleável, como o cérebro funciona e como as conexões entre suas células nervosas crescem e se fortalecem na medida que aprendemos coisas novas. Em seguida, a classe discute o artigo com o professor encarregado pela monitoria. Um cartaz para que os alunos se lembrem constantemente do que leram é pendurado na sala de aula. E, no fim, cada estudante escreve uma carta contando para um familiar ou amigo o que aprendeu sobre o assunto e dando conselhos.
Segundo o Banco Mundial, o programa-piloto - que começou a ser testado em 2015 - gerou um impacto positivo nas notas dos alunos, que, em média, equivaleria ao que seria conseguido por um aumento de dois a três anos na escolaridade de seus país. Esse tipo de comparação costuma ser usada porque há farta evidência de que o número de anos de estudo dos pais tem forte relação causal com o desempenho acadêmico dos filhos.
Embora o aumento da escolaridade da população adulta seja desejável, por inúmeros motivos, trata-se de um processo demorado. Não daria para contar só com isso como estratégia para melhorar a aprendizagem das crianças no curto prazo. O que o governo do Peru está tentando fazer é justamente identificar soluções efetivas, escaláveis, com uma boa relação entre custo e benefício, que ajudem o país a melhorar a qualidade da educação em um horizonte mais próximo de tempo.
Criou para isso uma espécie de laboratório de inovações educacionais (MineduLAB) que se associa a pesquisadores da área para implementar, testar e mensurar novas iniciativas. Foi nesse contexto que o "Expande tu mente" foi implantado em um grupo grande de escolas de três regiões do país e seus resultados, aferidos em um teste de aprendizagem nacional comparados posteriormente com os de outras instituições que não receberam a intervenção.
Segundo um relatório divulgado há duas semanas pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), as poucas iniciativas em países em
desenvolvimento que buscam motivar os alunos e tiveram sua efetividade mensurada
apresentaram efeito positivo sobre a aprendizagem. Esse tipo de programa tem a
vantagem de ser relativamente barato. Então o que estamos esperando?
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
Disponível na Folha de São Paulo. Texto com adaptações.
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Escrito por Educação, no dia 13/10/2017