Agora virou moda. Muitos motoqueiros e condutores de veículos estão arrancando antes de o sinal verde aparecer no painel. Simplesmente, estão calculando o tempo por conta própria. Falta postura ética de compromisso social. É difícil explicar por quais razões o pensamento humano não evoluiu para a ética. Da época que Caetano Veloso cantou ?Podres Poderes? até hoje, vimos pouquíssima evolução no cumprimento das leis de trânsito. Apesar de as músicas dele serem cheias de metáforas, parece que essa não foi entendida de nenhuma forma.
Lembra? ?Enquanto homens exercem seus podres poderes, motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Somos uns boçais?. É possível ver essa cena, principalmente na avenida Telésforo Cândido de Rezende, todos os dias. Se os condutores colocassem apenas a vida deles em risco, poderia ser uma opção, mas o problema é que estão comprometendo a segurança de pedestres para obterem vantagens pessoais. Será que eles não veem isso como corrupção?
Sonho ver atitude firme do estado, por meio da polícia, advertindo os condutores, prendendo e rebocando veículos. Dessa mesma forma, pessoas que estão avançando o sinal vermelho, ou arrancando seus carros momentos antes do sinal verde, mudariam de atitude.
?Queria querer gritar setecentas mil vezes como são lindos, como são lindos os burgueses e os japoneses mas tudo é muito mais.? Eu também queria dizer como são lindos os aplicativos e a presença dos jovens monitores nas ruas, controlando o tempo de estacionamento dos carros e motos, mas, ?tudo é muito mais?. Honestamente, não vejo como isso está a favor da vida. Está a favor do mercado, isso sim. Não é, ainda, cuidado com as pessoas e com a qualidade de vida delas. Por que não criam aplicativos e leis municipais para identificar, controlar e punir poluições sonoras e outras poluições no trânsito, além de apenas controlar estacionamentos? Isso sim, seria cuidar de gente. Quem leu o livro ?O menino do dedo verde?, de Maria José Duprè, sabe o que estou querendo dizer aqui. Nossas leis municipais são tímidas. Desconheço se os vereadores estão preocupados com as poluições urbanas e se estão apresentando projetos de lei, para melhorar as relações no trânsito.
Outra situação gritante é a dos sons automotivos. É impressionante ver como alguns jovens perderam o sinal verde da seleção musical, achando que ?estão o máximo? com seus sons estridentes. Eu me sinto mal quando deparo com esse tipo, que arrasta lentamente seus veículos rebaixados, passando pelos quebra-molas de lado, como velhos subindo escada, levando a bordo outro colega, ambos de boné com aba voltada para trás, com música de péssimo gosto, se é que aquilo pode ser chamado de música.
Tudo muito poluente. Raramente, os condutores são mulheres. ?Será que apenas os hermetismos pascoais, os toms, os miltons, seus sons e seus dons geniais nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais?? Haja Tons Jobins, haja Miltons Nascimentos para nos salvar com seus dons geniais, pois, no nosso trânsito, as músicas não passam de ruídos estressantes.
?Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede são tantas vezes gestos naturais.? É lamentável ver como temos facilidade de naturalizar atitudes não éticas, agindo como se elas fossem naturais. Daí a necessidade de as autoridades policiais coibirem as transgressões dos condutores de veículos, porque morrer e matar no trânsito não podem ser vistos como gestos naturais.
Por fim, ?Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo daqueles que velam pela alegria do mundo, indo mais fundo tins e bens e tais.? Nós que ajudamos um pouco na formação pública de opinião, precisamos lutar pela evolução do pensamento e das mentalidades, para além das metáforas. Olho para o trânsito na avenida Telésforo Cândido de Rezende e fico a pensar como a cidade de Gramado deve nos invejar, pois lá os condutores dão preferência aos pedestres, mesmo sem semáforos. Só as motos e fuscas de fora avançam o sinal vermelho.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
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Escrito por Educação, no dia 12/05/2017