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Educação


Educar nas escolas de regiões violentas



Desta vez, Claudia Costin*, a educadora brasileira internacionalmente reconhecida e respeitada, aposta na possibilidade de se poder educar crianças e jovens nas zonas de grande violência. Para muitos, isso não passa de uma utopia. Evidentemente, que essa façanha exige um carisma especial dos educadores. É o que ela mostra na descrição a seguir.

 ?O carro se aproxima lentamente, percorrendo as ruas sujas de lama de uma comunidade de São Luís, o Coroadinho. Explicam-me que se trata de uma área conflagrada, onde a violência faz parte do cenário cotidiano. Conheci várias favelas e bairros em diversas partes do mundo com características semelhantes. Em muitos deles, o prédio de uma escola se destacava. O que encontrei lá, no entanto, não se assemelha ao que se costuma ver nestas áreas. Ali se ergue uma escola em tempo integral com jovens comprometidos com seus sonhos de futuro, professores aparentemente acreditando no potencial dos alunos e uma proposta pedagógica exigente e, ao mesmo tempo, apoiadora.

Isso traz à tona o que as pesquisas recomendam para atuação de escolas em zonas de violência. A primeira recomendação é integrá-las numa abordagem sistêmica de transformação da educação, mas com uma forte ação afirmativa, ou seja, dando mais recursos, atraindo os melhores professores e investindo mais em infraestrutura, justamente para as escolas que mais necessitam de apoio. Para que a equipe escolar seja adequada, há dois requisitos necessários: pagar mais a quem dá aulas nesses locais e fixar os professores numa única escola, preferencialmente em contratos de 40 horas semanais, aí incluído o tempo de atividades extraclasse, a ser desempenhado na própria unidade, em colaboração com os colegas.

Além disso, sistemas de reforço escolar que lidem com defasagem idade-série e analfabetismo funcional, mais frequentes nessas áreas do que em outras, têm grande potencial de impactar a aprendizagem e apoiar os profissionais. A oferta de uma educação de excelência que aposte no potencial de cada aluno e os desafie a ir bem além do esperado para jovens em situação de vulnerabilidade é o ingrediente mais importante. Há uma visão prevalente que supõe que, para jovens pobres, em bairros conflagrados, o ideal é mantê-los protegidos na escola, com a oferta de uma educação de segunda classe. Ledo engano: se não sentirem que a educação é de qualidade e relevante para suas vidas, os alunos tendem a abandonar a escola.

Mas, de tudo o que vi em Coroadinho, o que mais me chamou a atenção funcionaria em qualquer escola para adolescentes: o aluno era o centro da proposta educacional e a abordagem enfatizava o protagonismo juvenil. O jovem é apresentado como portador de um sonho de futuro, mesmo num contexto em que, para além dos muros da escola, o que mais aparecia era a ausência de possibilidades. Certamente irão se formar, nessa unidade escolar, jovens aptos a reescrever a história e o futuro de outros jovens do bairro.?

Claudia Costin deixa muito claro nesse seu testemunho que a educação para o público alvo das regiões violentas tem de ser oferecida fora do modelo tradicional de sala de aulas cheias, com os conteúdos e didática tradicionais. Ou o aluno é transformado em estudante, se tornando o protagonista da aprendizagem, ou a experiência cairá na vala comum da indisciplina e da violência dentro da própria escola. Diga-se de passagem que o modelo tradicional é por natureza a primeira violência escolar sofrida por professores e alunos.

Apesar de a educadora ter apresentado fundamentos teóricos para fazer seu relato, na minha percepção, faltou um elemento básico nesse testemunho qual seja a discussão sobre o impacto das novas teorias da aprendizagem adotadas por essas experiências inovadoras de educação escolar formal. Essa discussão está chegando aos poucos nos departamentos educacionais, o que nos traz grandes esperanças de ver a escola, finalmente, mudar sua cara e sua prática. 


José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: joseantonio281@hotmail.com

*Cláudia Costin é professora visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Banco Mundial, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

 



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Escrito por Educação, no dia 31/03/2017




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