O tema proposto não trata das comemorações da virada do ano, mas, quem sabe, pode persuadir alguém sobre a necessidade urgente de fazer uma virada no modelo educacional brasileiro que tem levado tantos estudantes ao desânimo de frequentar aulas?
Em recente artigo, Érika Fraga apresentou dados de uma pesquisa que mostram como anda a opinião de vários estudantes sobre nosso sistema de ensino e por quais razões vários deles estão deixando de frequentar a educação formal. Isso equivale ao mesmo que: estão abandonando a escola ou matando aulas.
Ela aponta para um paradoxo que é facilmente compreendido. ?Tanto indicadores da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita pelo IBGE, quanto do Pisa, teste internacional de aprendizagem aplicado pela OCDE, ambos referentes a 2015, revelam que o percentual de brasileiros matriculados no ensino básico vem aumentando. É motivo para comemoração em um país que começou a se preocupar com a inclusão educacional tardiamente em relação à boa parte do mundo.? Se o número de matrícula aumentou, por que a frequência caiu? Foi devido à insatisfação estudantil com o sistema clássico de ensino. Outras explicações ou justificativas só servem para confundir as opiniões.
Para Érika, ?Continua sendo, no entanto, difícil convencer os adolescentes de que vale a pena persistir e permanecer na escola até o fim. O IBGE mostrou que 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos, em 2015, havia abandonado os estudos precocemente. Esse dado não nos permite concluir, no entanto, que o ensino médio é nossa principal fonte de problemas porque, na maioria dos casos, a ruptura começa antes. Seis em cada dez adolescentes de 15 a 17 anos que não estavam estudando no ano passado desistiram ainda no ensino fundamental. Esse percentual já foi pior. Em 2005, era de 76,2%. Mas continua muito elevado. E, se esse número for analisado em conjunto com outras informações recentes, a situação parece alarmante.?
Na pesquisa feita pela OCDE focando a última edição da avaliação do Pisa, em 2012, ficou claro que ?O percentual de alunos que responderam não ter perdido nenhum dia inteiro de aula duas semanas antes do exame era, por exemplo, de 79,7% contra 85,2% na média da OCDE em 2012. Desde então, no entanto, houve uma piora expressiva nos nossos indicadores de frequência. Em 2015, a parcela dos jovens brasileiros que afirmou nunca ter perdido um dia inteiro de aula nos 15 dias anteriores à prova despencou para 52%, abrindo um hiato significativo em relação ao patamar de 80,3% na média dos países desenvolvidos.? Continuamos a perguntar: Por que os estudantes estão faltando tanto às aulas?
Fraga diz que as conclusões a partir desses dados se referem à média de todos os estudantes e que a situação piora, ao mirar a situação dos alunos de classes sociais mais baixas. Por essa grave constatação, ela adverte: ?Está na hora de ouvirmos esses jovens, prestarmos mais atenção no que eles pensam e esperam da educação. Sem isso, será difícil resgatar os milhões deles que, via abandono completo ou fuga gradual das aulas, estão se distanciando da escola.
O modelo clássico de educação formal já foi revolucionário um dia. Encantou famílias e estudantes, deu lugar ao sol para muitas gerações. Cumpriu papel indispensável na preparação de profissionais competentes e na formação cidadã de nossos muitas gerações. Só que a forma de exercer esse papel e função social deixou de ter o mesmo impacto, influência e importâncias nos dias atuais. E isso não está sendo levado a sério.
Quando políticos e funcionários públicos das secretarias de educação se referem à educação, só conseguem mirar seu passado com saudosismo. Falam da escola dos dias contemporâneos como se ainda o seu passado estivesse vivo, tamanho é o despreparo, a falta de criatividade ou de coragem para enfrentar e implantar mudanças. O sistema educacional brasileiro tem que se livrar desse desespero agonizante. Precisa de gente corajosa para isso. Você conhece alguém capaz, para fazer mudanças radicais?
Dados disponíveis em <http://blog.andi.org.br/frequencia-escolar-tem-severa-piora-no-Obrasil#sthash.R66RKPJV.dpuf> Acessado aos 20/dez/2016.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 26/01/2017