Quarta-feira, dia 02 de dezembro, 8h da manhã, a rua está cheia de carros e, na frente do Centro Comunitário, as famílias, os parentes e responsáveis se aglutinam. É uma formatura de crianças. Todas aquelas pessoas estão de férias. Há crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos. Supostamente, só os velhos, já aposentados, teriam tempo livre para estarem ali. Não é bem isso que vemos. O cenário é de festa e o dia é quarta-feira. Pasmem! Não é pouca gente. Estou trabalhando na varanda de minha casa, colado ao Centro Comunitário, mas não conseguiria contar o grande número de pessoas que veio para a festa.
Durante o ano, as escolas realizam várias reuniões, quase sempre aos sábados, para atender a maior parte dos adultos e conseguir a presença de pais ou responsáveis. Mas eles não aparecem. Eles sempre têm uma razão que, quase sempre, são desculpas. Isso é preocupante e assustador. Mas estão ali, firmes na formatura. Vivemos a cultura acrítica da festa. Quase sempre, faz-se a festa pela festa e não para celebrar um processo, um trabalho coletivo.
Quando os professores enfrentam problemas de indisciplinas de alunos e precisam da presença de pais ou responsáveis na escola, a primeira coisa que eles ouvem é: meus pais ou tios, padrastos ou madrastas trabalham e não têm tempo para virem aqui. Atrás da resposta dos alunos, quase sempre, está implícita a fala de que os adultos não têm tempo a perder para ficar cuidando da indisciplina deles nas escolas. Alguns chegam mesmo a dizer: meus pais não têm tempo para isso. É um desprezo, um descaso, um fracasso da família na educação escolar dos filhos.
No entanto, todos aparecem no dia da formatura. Comemoram a imbecilidade e a superficialidade, a triste cultura da comemoração. Muitos alunos vão para as formaturas com uma formação frágil, hoje em grande número. Brincaram o tempo todo, deram problemas e tiraram a saúde dos professores e estão ali, comemorando não sei o quê. Alguns fazem cursos tão mal feitos que, se tivessem vergonha, nem compareceriam ao evento com os colegas. Mas são os que mais comemoram a festa. Comemoram o quê?
Tenho grande resistência a festas, pois muitas delas não passam de um teatro, um faz de conta que mobilizam pessoas para celebrar a futilidade. Pessoas fúteis sempre estão com riso fácil, rindo não sei do quê, comemorando o que não conquistaram, pois não edificaram nada.
Comparecer à escola para resolver problemas... os pais nunca podem. Encher um salão em uma manhã de quarta-feira. Fico a pensar sobre possíveis conclusões que ficam na cabeça das crianças e adolescentes tais como: O melhor da escola é o dia de entrada e o dia da formatura. Toda experiência de escola é ruim. Estudar é a pior coisa do mundo. Os pais e os responsáveis não precisam se comprometer com a vida escolar de seus filhos e dependentes. A vida é uma festa e o trabalho só existe pra atrapalhar a festa. Pode ser que não cheguem a nenhuma conclusão e que não pensem em nada disso. Nesse caso, pior ainda, pois estaremos diante de algo drástico: estão ali a festejar uma formatura conseguida em uma escola onde não aprenderam a pensar por si mesmos e a serem críticos e questionadores. Guimarães Rosa estava certo: ?O animal satisfeito dorme?.
Muitos vão continuar sua ?preparação? para a vida e o mercado de forma totalmente acrítica. Não veem problema de a formatura não ser coroamento de um processo formativo, mas apenas mera busca e desejo de status.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
Contato: joseantonio281@hotmail.com
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Escrito por Educação, no dia 18/12/2015