A estante oculta segredos. Então, já que não preocupa por demais nenhum deles, devo clamar por silêncio. Seja um silêncio breve, sem qualquer volúpia. Toda torpeza – descaramento, desvergonha, imoralidade – da alma que não desejo mostrar, que fique em depósito, aqui, comigo e mais ninguém. Gosto de orquestrar e degustar as almas vadias e mortas que desenho; que desenho em meus personagens inválidos, combalidos, e, nas frases mais calmas ou malditas que escrevo. Todas já nascem escroques – trapaceiras – e procuram refúgio no canto mais escuro. Clarice Lispector pudesse me ouvir escrevendo, seria delatora. Delatora de minha total desfaçatez. Voltaire com seu “Dicionário Filosófico” me permita escrever rimas imbecis e continuar patético.
Sílvio Lopes de Almeida Neto
Maio 19, 2020.
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Escrito por Silvio Lopes, no dia 22/05/2020
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