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Pesca


Como contar uma história de pescaria



“Uma história pré-fabricada, para todos os fins, aplicável a qualquer peixe, de qualquer tamanho, em qualquer lugar”.

Certas regras simples norteiam todas as histórias de pescaria. O narrador fisga um peixe e apanha-o ou perde-o. As únicas coisas variáveis são a espécie do peixe – e, portanto, o seu tamanho e o seu habitat – e o tipo de apetrechos usados na sua sabedoria (ou na sua loucura) pelo narrador. Muita reflexão e muito tempo serão assim poupados se os autores de limitarem a preencher alguns espaços em branco, conforme determinem os fatos.

A história deve começar com uma modesta enunciação das credenciais do autor: “Já pesquei o possante (...) ao largo do Rio São Francisco, e os furiosos (...) ao longo dos baixios do pesqueiro Cachoeira Grande. Vi um (...). virar um corisco no pesqueiro da Barra do Espírito Santo. Mas, quanto à força e à coragem, nunca vi coisa que se pudesse comparar, quilo por quilo, com um (...)”.

É uma introdução perfeitamente viável, mesmo quando aplicada a alguma espécie de peixe de indolência notória. O narrador usa para uma pacamã, que se comporta de maneira muito semelhante a um “chinelo velho”, a mesma fórmula que usaria para um surubim de 35 quilos.

O narrador passa então a apresentar seu guia, que é sempre um homem enérgico e monossilábico: esse homem poupa muito diálogo improvável. O narrador assume nesse ponto o papel de secundário e deixa ao guia a alta estratégia. (“Nunca chegamos a saber o sobrenome de Joe, mas ele nos ensinou tudo o que se podia saber sobre os segredos do Xingu”).

E o Joe sempre tem razão. Mal toca a água a primeira isca do autor, a vara baixa imediatamente, a linha desenrola com um ruído sibilante! O autor consegue a custo manter o equilíbrio, face àquela primeira investida desenfreada do (...) As duas horas seguintes são de ação intensa, enquanto o autor vai trazendo à tona gigantescos e sucessivos (...), os maiores que já viu, Joe aparenta um grande tédio. “(...) continua aqui”, resmunga ele.

Chega o momento do último lançamento do anzol. Alguns metros além da isca, a água rodopia. “Alguma força enorme e invisível causou uma convulsão aquática. Fascinado, vi aparecer por um instante uma grande cauda, enquanto o monstro rolava preguiçosamente e submergia de novo. Voltei-me para Joe: “Não me diga que aquilo era um (...)! Não é possível que eles cheguem a esse tamanho!” Mas Joe resmungou apenas “(...)  grande”. A aparelhagem do autor é leve demais para um (...) daquele tamanho, mas agora é tarde. E então, novamente verga a vara, novamente sobre guinchando a linha. Mesmo arrastando o peso de (...) quilos, a disparada do (...) leva tudo de vencida. O grande peixe se atira para fora da água, a grande altura e cai de novo com um grandioso estrondo.

“A vara vergou a ponto de quase partir-se em duas. Era um verdadeiro pandemônio”. Mais saltos e puxões – cerca de uma página deles. Depois (...) “De repente minha linha afrouxou ameaçadoramente. Comecei a enrolá-la com frenezi “(...) foi-se, resmungou Joe”.

Resta apenas a inacreditável circunstância de que a ponta da linha, quando o narrador finalmente a traz à superfície, seja de nylon ou corda, nunca varia de condição: “Cortada!”. Prova muda de que o (...) enfrentou o desafio do homem – e venceu!

Os dois se preparam para partir. “Mas de repente a água se convulsiona de novo. O imponente (...)  irrompe na superfície, desaparecendo com um último espadanar de escárnio – monarca invicto do (...).


Adaptado do texto – Lago espetacular, Orinoco Superior, Enseada, etc. etc.




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Escrito por Pesca, no dia 31/07/2015




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